Escrita Criativa – Dimitri Vieira https://dimitrivieira.com Escrita Criativa, Storytelling e LinkedIn para Marcas Pessoais Fri, 24 Jan 2025 20:14:50 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.2 https://dimitrivieira.com/wp-content/uploads/2022/05/cropped-Frame-9-1-80x80.png Escrita Criativa – Dimitri Vieira https://dimitrivieira.com 32 32 A coragem de desistir e a arte de fechar portas https://dimitrivieira.com/coragem-de-desistir/ https://dimitrivieira.com/coragem-de-desistir/#respond Fri, 24 Jan 2025 20:14:29 +0000 https://dimitrivieira.com/?p=10474 É tanto discurso motivacional de “vá em frente” e “não desista” que, às vezes, pode parecer que desistir, encerrar ciclos e fechar portas não são opções.

O detalhe é que entender a hora certa de deixar de insistir em algo pode ser tão importante quanto a coragem de assumir riscos e começar algo inédito.

Se você passou por alguma mudança drástica para começar algo novo e precisou deixar algo para trás, aposto que sabe como funciona.

Boa parte das pessoas ignora o novo e te pergunta: então você vai desistir do velho?

Escutei isso pela primeira vez quando me formei em engenharia e comecei a trabalhar com marketing. Ouvi de novo quando estava bem na Rock Content e decidi apostar todas as minhas fichas na minha marca pessoal.

E voltei a ouvir quando anunciei que deixaria a agência de influência que fundei e, tenho certeza, vou ouvir mais vezes.

Faz parte do jogo e, por mais que boa parte dessas pessoas talvez não enxergue fechar portas como opção, também entendo que elas acabam se apegando ao velho conhecido.

Mas tão problemático quanto desistir de primeira é não desistir nunca.

As pessoas vão sempre te perguntar “quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?”, mas quando você fez algo que já não te fazia bem pela última vez?

Saber a hora certa de sair pela porta da frente é preservar o que houve de bom. É bater a porta, trancar e manter a chave no chaveiro por apego emocional.

Acredito que foi em How I Met Your Mother, após o término de um casal, que disseram que não era um relacionamento que deu errado. Mas um relacionamento que deu muito certo por um tempo limitado.

Talvez, algum dia, você até arrisque voltar pela nostalgia. Talvez não.

Quem sabe você encontra as portas abertas.

Ou não. Talvez, você descubra que as fechaduras foram trocadas logo após sua saída — e a única utilidade da chave é mesmo o apego emocional, mas um apego emocional a uma porta que você não pode mais abrir.

E você finalmente entende que aquela chave era justamente o que te fazia não abrir novas portas.

Leve e inofensiva, parecia não ocupar espaço algum, mas basta tirá-la e novas portas se abrem com mais facilidade. Porque você só começa algo novo de verdade quando se desprende de algo velho.

Para entrarmos de vez na contramão do discurso motivacional do “não desista”, acredito que tem boas chances de você conhecer o ator Tom Hardy. Mas talvez não conheça o filme Bronson, onde ele interpreta um dos mais perigosos e excêntricos criminosos de todos os tempos.

Enquanto se preparava para o papel, Tom Hardy conversou bastante com Bronson para entender como interpretar o criminoso nos mínimos detalhes. Numa dessas conversas, o ator havia acabado de terminar um relacionamento e decidiu confessar como se sentia.

— Não estou confortável, estou me despedindo de alguém que realmente amei. Não estou feliz, não estou bem. Não consigo ficar com uma mulher e, no entanto, não consigo ficar sem uma…

A resposta de Bronson ajuda a justificar o porquê do fascínio de se fazer um filme sobre um criminoso como ele:

— Você se lembra das inundações que aconteceram em Oxford? Lembra daquele garoto que ficou com o pé preso na grade, e o rio continuava subindo, e continuava subindo, e continuava subindo, e eventualmente tentaram tirá-lo, mas ele se afogou?

O ator confirmou que se lembrava e ele continuou:

— Bem, isso não teria acontecido comigo. Quer saber por quê?

Tom disse que sim e ele concluiu:

— Porque eu teria dito: corta fora agora.

Depois amarrou sua ideia para explicar que, às vezes, você tem que cortar um pedaço de si mesmo, não importa o quanto doa, para poder crescer.

Para poder seguir em frente.

A coragem de não desistir pode encher seu chaveiro de chaves que não abrem mais portas e pode fazer a água subir mais do que deveria.

Às vezes, o “vá em frente” — o Keep Going — fica melhor mesmo como slogan de whisky e a coragem de verdade está em fechar a porta, atirar a chave fora e abrir espaço para seguir em frente.

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Como criar o Conflito Perfeito para uma história? https://dimitrivieira.com/como-criar-o-conflito-perfeito/ https://dimitrivieira.com/como-criar-o-conflito-perfeito/#respond Sun, 28 May 2023 16:04:41 +0000 https://dimitrivieira.com/?p=9238 No último fim de semana, decidi rever o filme CODA, batizado de “No Ritmo do Coração” aqui no Brasil e vencedor do Oscar de melhor filme no ano de 2022.

O vencedor do Oscar teve seu roteiro adaptado de uma comédia dramática francesa de 2014, “A Família Bélier” e concorreu com “Belfast”, “Drive My Car”, “Ataque dos Cães, Licorice Pizza” e outros.

Confesso, não era meu favorito da lista.

Isso porque é um filme mais simples e com alguns clichês, sem um toque tão inovador assim, sem grandes reviravoltas e sem pirotecnias.

Talvez por influência do “Meu Pai” e “Parasita”, que foram destaques nos anos anteriores, “No Ritmo do Coração” não me pareceu um filme digno de Oscar em um primeiro momento.

Mas preciso te dizer que ganhou vários pontos comigo nesse último fim de semana.

Nessa simplicidade dele, alguns toques ajudaram a construir o conflito perfeito e, desse conflito, nasceram algumas cenas que são um espetáculo à parte no filme.

Essas cenas isoladas bateriam vários dos concorrentes na lista de potenciais melhores filmes.

Já vamos falar sobre elas por aqui, mas vale relembrarmos antes:

Como construir o conflito perfeito

No maravilhoso livro “Story”, do Robert McKee, o conflito é dividido em basicamente três níveis.

De forma bem resumida:

  1. Conflito interno: desafios e lutas pessoais;
  2. Conflito externo: enfrentando situações exteriores ao personagem e, talvez, um antagonista;
  3. Conflito extra-pessoal: contra entidades e situações injustas, que ferem a ordem natural e podem trazer um tom filosófico à história.

Uma história que segue a Jornada do Herói como um checklist, por exemplo, corre o risco de trazer apenas um conflito externo — com o protagonista vivendo simplesmente uma jornada externa.

Nesse caso, os três atos da história acabam reduzidos meramente a início, meio e fim; o arco do personagem principal é completamente ignorado e não há transformação alguma.

Sem essa transformação, temos uma espécie de Jornada Estática: um protagonista imutável que chega no último ato exatamente como começou e, portanto, é incapaz de inspirar qualquer mudança por parte do público.

Quando temos um conflito interno e um externo, melhoramos um pouco mais os ingredientes para uma boa história.

Mas é adição do conflito extra-pessoal que, geralmente, leva a trama para outro nível. Como já vamos ver, você pode encontrar os três níveis em “No Ritmo do Coração”.

O conflito precisa ser personalizado (para o protagonista e para o contexto)

Discutir qual vem primeiro (contexto, protagonista ou conflito) seria entrar numa discussão de ovo ou galinha.

O ponto é: quanto mais esses elementos conversam, mais específica e mais forte será sua história.

Vamos supor que a personagem principal tem o grande sonho de investir numa carreira musical como cantora.

Se ela tiver pais artistas que a apoiem e um professor disposto a treiná-la nas horas vagas? Fim da história.

Ela terá todo o suporte possível logo de cara e duvido que uma trama assim te segure na cadeira por 2 horas.

Se ela tiver pais conservadores que não apoiariam uma carreira artística, melhora bastante.

É o caso do clássico “Billy Elliot”: filho de um mineiro, ele quer aprender a dançar balé, mas seu pai é do tipo que somente aceita seu filho lutando boxe — até vê-lo dançar.

Mas e se o pai não pudesse vê-lo dançar?

E se, além disso, a família dependesse dele a ponto de comprometer uma possível vida longe da família?

No Ritmo do Coração

O filme conta a história de Ruby, a única pessoa de sua família que consegue escutar. Seu pai, sua mãe e seu irmão são surdos não oralizados. Então, ela cresce atuando como intérprete da família e, em várias situações, desde novinha, ela precisa cuidar dos seus pais quando o natural seria o contrário.

Seu grande sonho é ser cantora e fazer faculdade de música em outra cidade. Mas, por mais que ela tenha um professor disposto a ajudá-la, sua família não consegue entender esse sonho tão fácil. Numa cena, sua mãe chega a lhe perguntar “se eu fosse cega, seu sonho seria ser pintora?”.

Além da dificuldade de compreender, tem a questão da dependência: quando sua família decide investir num negócio de pesca, então, Ruby se torna ainda mais necessária para intermediar a comunicação.

E tem a questão de tempo: como lidar com o ensino médio, as questões da adolescência e ainda correr atrás de um sonho com tantas responsabilidades nas costas?

Pronto. Conflitos internos, externos e extra-pessoais checados e marcados em negrito — logo na sinopse.

Mas o ponto-chave de tudo é: como Ruby poderia convencer seus pais a apostarem em seu sonho e abrir mão da presença da filha no dia a dia — se eles sequer conseguem ouvi-la cantar?

Depois de criar, como resolver o conflito?

A resposta, como não poderia ser diferente, vem da música. Mas não de uma forma tão óbvia assim.

Primeiro, seus pais e irmão comparecem em um show de talentos de sua escola para vê-la cantar. Numa transição genial, a cena tem o áudio cortado para nos colocar no lugar da família e fica bem mais difícil acreditar no dom de Ruby assim. [veja aqui]

Depois, seu pai, Frank, lhe pergunta sobre o que era a música que ela cantou.

Ela diz que é sobre amar e depender de alguém, e ele pede que sua filha cante a música novamente — à capella mesmo, com os dois sentados na traseira da caminhonete sob as estrelas.

Naquele momento, Frank tenta entender a paixão da sua filha, se ela é mesmo boa ou não e, principalmente, se ele a deixa partir para apostar na música.

Seu pai coloca a mão em seu pescoço para testemunhar melhor ela cantando e, então, acompanhamos toda a evolução em seu rosto.

Da estranheza da incapacidade de entender, à surpresa de contemplar algo inacreditável, à ternura com toques de orgulho, amor e tristeza do pai que, agora, confia no sonho da família. Mas sabe que isso significa ter que deixá-la ir embora.

Pouco mais de um minuto para solucionar o conflito perfeito, numa cena que vale mais que vários filmes inteiros.

E a letra de “You’re all I need to get by” é a cereja do bolo pra fechar, com perfeição, uma cena digna de Oscar e de ficar marcada muito tempo na memória de quem assiste ao filme.


“With my arms open wide, I threw away my pride. I’ll sacrifice for you, dedicate my life to you. I will go where you lead, always there in time of need, and when I loose my will you’ll be there to push me up the hill.

There’s no looking back for us, we got love sure enough. That’s enough. You’re all, all that I need to get by.”

Tradução livre: Com meus braços abertos, joguei fora o meu orgulho. Eu me sacrificarei por você, dedicarei a minha vida a você. Eu irei onde você indicar, sempre presente quando precisar, e quando eu perder a minha motivação e minha vontade, você estará lá para me empurrar montanha acima.

Não olharemos para trás, temos amor de sobra. Isso basta. Você é tudo, tudo que eu preciso para seguir em frente.

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Tudo em nome dos cliques: vale a pena apostar todas suas fichas em um “viral”? https://dimitrivieira.com/tudo-por-um-viral/ https://dimitrivieira.com/tudo-por-um-viral/#respond Wed, 03 May 2023 00:28:05 +0000 https://dimitrivieira.com/?p=9080 2 milhões e 800 mil pessoas. Um único post.

É cada vez mais comum vermos pessoas ostentando métricas assim, não é? Agora, o que esses números te contam?

Esse foi o resultado de um conteúdo meu e já vamos falar sobre ele.

Primeiro, precisamos conversar sobre o fenômeno que se tornou viralizar nas redes sociais. Numa era em que 75% dos jovens brasileiros sonha ser influenciador digital, ter um post viral se tornou o pote de ouro do outro lado do arco-íris.

Todos os dias, conhecemos uma nova história de alguém que explodiu depois de um único post alcançar milhares de pessoas. É o novo “estourou da noite pro dia”.

Para muitas pessoas, viralizar se tornou um caminho. Para outras, mais do que trajetória, é a única finalidade de criar qualquer conteúdo.

Mas o que existe por trás de um viral?

Para começarmos essa conversa, poderia escolher vários exemplos: Luva de Pedreiro, Lil Nas X ficando milionário do dia para a noite graças ao TikTok, Anitta conquistando o topo do Spotify Global com uma música lançada meses atrás que — adivinha? — viralizou nas redes sociais.

Preferi escolher um exemplo que conheço bem e que aconteceu antes da rede social das dancinhas nascer.

O nascimento de um viral

3,4 bilhões de visualizações. Esse é o número atualizado do clipe de uma música publicado no YouTube em 2012, de um cantor folk, que continua no Top 30 vídeos do YouTube até hoje.

Na época, o compositor já fazia seus shows, mas passava boa parte do tempo como um artista de rua, apresentando-se com a capa do violão sempre aberta para receber uns trocados e com algumas cópias de seus CDs à venda.

Nessa fase da carreira, ele convivia com muitas pessoas de origens e histórias diferentes. Nas ruas, praças e em hostels.

Muitas dessas histórias acabaram se tornando algumas das minhas músicas preferidas que ele escreveu.

Talvez, quem sabe, alguma delas seria seu grande hit que o tornaria mundialmente conhecido e faria com que ele não precisasse mais ser um artista de rua?

Não foi o que aconteceu.

Mike Rosenberg, mais conhecido como Passenger e mais conhecido ainda como cantor de Let Her Go, escreveu uma música que ele próprio descreve como uma canção clichê sobre um término de relacionamento.

Foi ela que alcançou o topo em 16 países, mais de 3 bilhões de pessoas no YouTube e chegou a ser o vídeo mais assistido na história da Austrália.

Como um bom fã chato, é claro que aprendi a detestar Let Her Go e, sempre que posso, faço questão de passar a música. Então, aqui, não teria como fazer diferente.

Em vez de um vídeo dela, prefiro te mostrar esse abaixo, mas tem um motivo especial (além do cover maravilhoso de Don’t Think Twice, it’s Alright do Bob Dylan).

Esse vídeo foi gravado por alguém que passava pelas ruas de Hamburgo, no dia 17 de junho de 2012. Um mês antes do futuro hit do cantor ser postado.

É maravilhoso apertar o play e imaginar que o Mike do vídeo não fazia ideia que sua vida mudaria tanto em tão pouco tempo.

Fica ainda melhor se você conhece mais do trabalho do cantor.

A música autoral que ele canta, Words, somente seria lançada oficialmente em um álbum 3 anos depois, no excelente Whispers II. Isso é só um pequeno exemplo do repertório gigantesco do cantor, que lançou 14 álbuns na carreira até o momento.

Também é impressionante como a essência da sua performance em shows é a mesma do vídeo. Tive o prazer de ver três shows dele ao vivo e, inclusive, dois deles tiveram abertura do Stu Larsen — o mesmo cantor que o acompanha nessa gravação.

Let Her Go nunca foi fabricada para viralizar. Era apenas a próxima música — como ele sempre faz questão de contar após tocá-la em shows.

O que os números (não) contam?

Agora que o artigo ganhou uma trilha sonora, podemos voltar para o post de 2 milhões e 800 mil pessoas.

Era novembro de 2022, dia da estreia do Brasil na Copa do Mundo, o jogo mal tinha acabado e as redes sociais já estavam abarrotadas com histórias de superação e lições de moral inspiradas no gol do Richarlison.

Na época, estava divulgando meu trabalho e o curso de LinkedIn para Marcas Pessoais numa frequência maior. Decidi dar um respiro e, em vez de falar do gol do Brasil, decidi escrever sobre o canal onde assisti ao jogo: a estreia do Casimiro na transmissão da Copa.

Um texto rápido que não me tomou 10 minutos, uma pesquisa por uma foto do Cazé e pronto. O que seria apenas um respiro se tornou um dos meus posts com maior alcance no LinkedIn.

Em vez de teorizar sobre os motivos de ter tomado essa proporção toda, vamos nos ater aos números e aos resultados.

2 milhões e 800 mil.

Chama bastante atenção, rende um belo slide em apresentações para falar sobre o alcance orgânico do LinkedIn e foi um belo cartão de visitas para novas pessoas conhecerem meu trabalho — especialmente porque direcionei o foco do texto para Creator Economy.

Mas resultados mesmo? Já tive conteúdos com 20 curtidas que me trouxeram cliente, mas ainda não descobri alguém que chegou especificamente por esse post do Cazé.

Na maioria das histórias contadas sobre virais, os números impressionam, mas não te contam a história toda — especialmente se contadas pelos autores dos virais.

Quando não tem um contexto, então, pode desconfiar sempre.

Não vou mentir, faz muito bem pro ego ter um post com um alcance desses e é justamente assim que a busca por um viral pode se tornar uma armadilha.

A armadilha da busca constante por um viral

Quando algo ganha uma lei, é fácil ver que o buraco é mais embaixo.

É o caso da placa de proibição inusitada que encontramos por aí: se ela existe, é porque já houve problemas o bastante com aquilo para justificar uma placa.

E graças a um artigo recente do Vitor Peçanha, descobri que existe uma lei para essa discussão:


“Quando uma medida se torna uma meta, ela deixa de ser uma boa medida.”

Charles Goodhart – 1975


Um exemplo dessa lei, que o Peçanha trouxe no texto, aconteceu na Índia durante o domínio britânico. Na tentativa de reduzir a população de cobras venenosas, os governantes passaram a pagar uma recompensa por cada cobra que os locais conseguissem capturar.

O resultado?

Em vez de apenas capturar cobras, não demorou para os indianos começarem a criar suas próprias cobras para aumentar suas rendas. Vendo que a situação piorava, os britânicos pararam de pagar pelos animais e os locais que criavam cobras em cativeiro soltaram todas na natureza.

É sedutor falar apenas de temas em alta para tentar repetir a dose de dopamina de um viral. Nessas horas, o criador de conteúdo do LinkedIn se torna especialista em carreira, mercado de trabalho e investe pesado em indiretas para a ex(empresa).

Eu poderia me tornar o “especialista em Casimiro”. O Passenger poderia apostar apenas em clichês românticos. E poderia — aliás, pode — funcionar.

Mas, se tudo o que você faz é tentar criar um viral, o que as pessoas vão encontrar quando chegarem em seu perfil? Uma miscelânea de temas em alta e frases de efeito?

Se milhares de pessoas conhecerem você dessa forma, vai surtir algum efeito positivo além da dose de dopamina? Porque, na melhor das hipóteses, um viral se torna um belo cartão de visitas para conhecerem seu trabalho.

Mas e quando o seu trabalho se torna viralizar?

Histórias de virais trazem uma visão distorcida pelo efeito da retrospectiva. Na maioria dos casos, o criador apenas fazia seu trabalho, em vez de fabricar virais.

Inverter essa ordem até pode funcionar, mas a busca desenfreada para viralizar a qualquer custo costuma trazer efeitos colaterais na identidade e na essência do criador.

Vale pagar esse preço para apostar todas as suas fichas em um viral?

O próprio Passenger dá a resposta em outra música.


“A única coisa que eu sei, a única coisa que me dizem é que tenho que me vender se quiser vender minha música. Não quero que o diabo leve minha alma. Escrevo músicas que vêm do coração e não dou a mínima se elas vão entrar nas paradas ou não. A única forma de ser verdadeiro é dizer o que eu vejo e não ter nenhuma sombra pairando sobre mim.

(…)

Não quero parar, não serei persuadido a escrever palavras nas quais não acredito para ver meu rosto em uma tela de vídeo.”

— “27”, Passenger


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Qual é a minha idade mesmo? https://dimitrivieira.com/qual-e-a-minha-idade-mesmo/ https://dimitrivieira.com/qual-e-a-minha-idade-mesmo/#respond Wed, 19 Apr 2023 12:39:00 +0000 https://dimitrivieira.com/?p=9096 17 de abril.

É uma das datas que mais tenho marcadas na minha cabeça.

4 dias antes de completar 18 anos, no dia 17 de abril de 2010, via o show da minha banda preferida pela primeira vez.

Um moleque de 17 anos com espinhas na cara no meio do que parecia um misto de motoqueiros, punks e tiozões.

Quase uma reunião pacífica dos Hell’s Angels na porta de uma padaria próxima à Via Funchal, para testemunhar a primeira (ainda única) vinda do Social Distortion ao Brasil.

Momentos antes do show, um punk tiozão encontrou na minha cara de deslumbrado uma oportunidade de despejar conhecimento.

“Moleque, não adianta te falarem que esse negócio de punk rock é só uma fase. Daqui uns 5, 10 anos você pode não ouvir essas músicas todo dia. Mas, quando ouvir, vai passar todo um filme na sua cabeça. Escuta o que eu tô te falando!” — 13 anos depois, acho que escutei.

Quando me perguntam minha banda preferida, ou show preferido que fui, Social Distortion tá na ponta da língua sempre. Quando a banda californiana entra no palco, tem uma aura diferente de qualquer outro show que já fui.

A pista inteira se transforma numa espécie de roda punk. Enquanto moleque de 17 anos, quando começaram a tocar, me perguntava o que eu fazia ali de tantos empurrões e porradas que chegavam de todos os lados.

Detalhe que a primeira música era instrumental e as rodas se intensificaram mesmo no final dela, quando emendaram com o cover de Under My Thumb, dos Rolling Stones.

Esse vídeo registrou exatamente a transição da 1ª para a 2ª música e captou um pouquinho do que é um show do Social Distortion.

É o tipo de show que até dá para gravar com o celular, mas é impossível manter um enquadramento instável e, se você insistir em gravar por muito tempo, corre sérios riscos de voltar para casa sem o telefone.

Foi só no final da segunda música que entendi o fenômeno e a experiência que eu estava vivendo.

Pode até parecer fanatismo dos brasileiros que recebiam os americanos pela primeira vez no Brasil, mas não. Tive o baita privilégio de ver outros dois shows deles — um em Los Angeles, outro em Londres — e o efeito é o mesmo.

Depois de vários anos com eles compondo boa parte da trilha sonora da minha vida, consigo facilmente associar uma música a cada vitória, a cada perrengue, a cada derrota, a cada tatuagem.

E nesse último fim de semana, o saudosismo ganhou um reforço com o retorno do Blink 182 aos palcos, no festival de Coachella.

Se o retorno do trio original resgatando vários hits dos anos 90 e 2000 traz uma nostalgia especial, “What’s my age again?” foi o ápice.

Na letra, Mark Hoppus conta como as pessoas e a sociedade esperam maturidade quando temos apenas 23 anos. Aos 51, após vencer um câncer, ele volta aos palcos para perguntar: qual é minha idade mesmo?

O post motivacional de redes sociais diria que o momento certo e a idade certa são os que você tem agora. Que a carreira de ator do Morgan Freeman deslanchou mesmo quando ele tinha 40, ou 50, com uma coletânea de outras pessoas que estouraram mais tarde.

Com os 31 batendo na porta, meu esforço é para ser um realista beirando o otimismo, e seguir aprimorando aos poucos esse filme que passa na minha cabeça — para que seja melhor a cada ano.

Então, sigo escutando.

Com algum risco de me tornar o tiozão do show em busca do próximo moleque deslumbrado. E uma esperança de continuar sendo também, de alguma forma, o moleque deslumbrado.

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O podrão resolve (e a Síndrome de The Sims) https://dimitrivieira.com/o-podrao-resolve-e-a-sindrome-de-the-sims/ https://dimitrivieira.com/o-podrao-resolve-e-a-sindrome-de-the-sims/#respond Thu, 09 Mar 2023 12:34:00 +0000 https://dimitrivieira.com/?p=9090 No fim de noite, pós-balada ou algumas rodadas num bar, nunca vi alguém buscar hambúrguer artesanal para encerrar a noite.

Nem sei se existe essa possibilidade e, se houvesse, ainda aposto minhas fichas que a procura por um podrão seria maior.

Aquele sanduíche mais simples, com todos os ingredientes possíveis, feito na chapa.

Traz até uma certa nostalgia lembrar de alguns finais de noite comendo lanches assim e, com certeza, vários livros poderiam ser escritos apenas observando conversas entre amigos nesses momentos.

O hambúrguer artesanal não chega nem perto disso.

Pois então, na última semana, me vi numa discussão com um amigo sobre duas publicações que tinham objetivos parecidos.

Uma delas era extremamente sofisticada, com um card trabalhado na identidade visual da pessoa criadora — num estilo que você poderia reconhecer a autora só de bater o olho, se você conhece o trabalho dela.

A outra trazia uma imagem extremamente simples tirada de um banco de imagem, daquelas que qualquer pessoa poderia ter compartilhado.

Já viu onde quero chegar?

Os designers de plantão que me desculpem, mas tem momentos que uma identidade visual pode, sim, atrapalhar.

E o motivo está dois parágrafos atrás: a cara do post bem simples, de que “qualquer pessoa poderia compartilhar”, pode falar mais alto em certos momentos e ajudar na performance.

Foi o caso dessa discussão: a versão mais simples teve uma entrega melhor em todos os aspectos que você imaginar.

O podrão resolve.

E para incomodar um pouco mais os designers, faço o mea culpa por aqui para dizer que, muitas vezes, aprimorar o aspecto visual não passa de perfumaria.

Desde que passei a atuar como meu próprio designer, desenvolvi algo que batizei de Síndrome de The Sims.

(Um breve parêntese para dizer que, recentemente, essa era de ser meu próprio designer acabou. Podemos falar mais sobre isso depois.)

Nesse jogo de simulação de vida, você pode criar personagens e controlar suas vidas diárias, além de construir casas, decorá-las, ter empregos, fazer amigos, ter relacionamentos, e basicamente viver como se fosse uma segunda vida virtual.

Nos anos 2000, passei algumas horas jogando à minha maneira.

Digitava klapaucius, seguido de vários “;!” e transformava meu personagem em milionário. Para quem quiser testar, esse era o código — a manha, como dizíamos na época — para ficar rico no jogo.

Depois disso, construía uma mansão e reformava a casa inteira, para deixar tudo lindo conforme minha mente arquiteta infantil.

Com tudo pronto, chegava a hora de jogar de verdade a parte da simulação de vida e perdia a graça para mim.

Lembro de construir incontáveis casas no jogo, mas não me lembro de passar uma hora sequer simulando a vida de um personagem ali dentro.

Foi o que me vi fazendo algumas vezes desde que escolhi apostar em cards e carrosséis para criar conteúdo.

Certas vezes, criei a versão 5.0 mais bonita e refinada de algo que era funcional na 1ª versão. Em alguns momentos, essa versão 5.0 sequer saiu pro mundo.

Além do processo de aprendizado, o design se tornou uma atividade de descompressão para eu exercer a criatividade sem torrar tanto meus neurônios.

E antes que os designers decidam me xingar no Twitter, esse é o processo natural em qualquer atividade criativa.

O problema é que não existe klapaucius na vida real para me sustentar enquanto arrumo a casa.

Se você me perguntar sobre identidade visual, com o tempo, é maravilhoso pensar em algo que remeta à sua marca logo que as pessoas batam o olho.

Mas esse não deve ser o foco, especialmente para quem está começando.

Em vez de gourmetizar toda a experiência, é melhor começar servindo um podrão com guardanapo personalizado e evoluir aos poucos.

Até porque, pensando no consumidor, ninguém vive de podrões na madrugada para sempre.

Se tem algo que você deseja começar, mas continua travado porque falta algo, vale sempre se perguntar se é apenas perfumaria ou não.

Porque, na maioria das vezes, um bom podrão resolve.

Sem passas e sem purê de batata, por favor.

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O ChatGPT é uma ameaça para escritores e redatores? https://dimitrivieira.com/chatgpt-para-escritores-e-redatores/ https://dimitrivieira.com/chatgpt-para-escritores-e-redatores/#respond Wed, 08 Feb 2023 14:01:46 +0000 https://dimitrivieira.com/?p=8993 Estamos chegando em um ponto que, em breve, os textos podem passar a vir com um disclaimer assim: este texto não foi escrito por uma Inteligência Artificial.

Mas será que poderia ser?

Desde que o ChatGPT estourou, ele é um dos temas mais falados.

Se você não acompanhou nenhuma discussão sobre ele ainda, é uma espécie de chat da UOL — agora, entreguei minha idade — com uma base de dados gigantesca, que responde suas perguntas e seus comandos via texto.

Basicamente, ele gera textos a partir de conversas, responde perguntas e realiza tarefas como traduções e resumo de textos, com base em dados da internet e sua capacitação.

Foi ele, inclusive, quem escreveu boa parte da descrição do que ele faz a partir do comando “Escreva de forma bem resumida o que é o ChatGPT” — tirando a parte do chat da UOL.

Com o comando certo, é assustador o que ele consegue entregar.

Uma das melhores provas que vi foi esse vídeo do Ryan Reynolds, que pediu para o ChatGPT escrever um anúncio para a Mint Mobile adaptado para ser lido na sua voz.

E para responder logo de cara a pergunta sensacionalista que levantei no título:

O ChatGPT é uma ameaça para escritores e redatores?

Esta imagem foi criada por I.A., via DALL·E 2

A resposta não foge tanto do discurso repetido desde a revolução industrial, quando processos manuais e repetitivos começaram a ser automatizados.

A novidade sempre esteve na atualização do que seria manual.

Escrever 10 sugestões de títulos para um texto, por exemplo, não pareceria uma tarefa mecânica e que podemos terceirizar para um robô alguns anos atrás.

Agora, é uma realidade. Posso copiar todo esse texto após terminá-lo e pedir para o ChatGPT sugerir variações de títulos (inclusive, fiz questão de fazer isso para testarmos juntos e você verá as sugestões mais abaixo).

Posso ainda pedir para ele sugerir uma estrutura do texto e, a partir da estrutura, dar o comando para a ferramenta desenvolver cada um dos tópicos.

E não demora para ter o texto completo.

Então, esse é um raro caso que uma pergunta sensacionalista de um título não é respondida com um definitivo “não”. Alguns escritores e redatores podem, sim, ser substituídos pelo ChatGPT.

Escritores e redatores sintéticos?

Algumas etapas, processos e métodos de escrita já podem ser automatizados: quanto mais seus textos forem baseados em fórmulas e templates, mais rápido uma I.A. pode te substitur.

Não estou dizendo que vai acontecer de imediato, mas que pode acontecer e me arrisco a dizer que não vai demorar tanto tempo assim, porque o ChatGPT ainda está em versão Beta.

Se ele já entrega um texto completo hoje com algumas falhas, não vai demorar tanto para essas falhas diminuírem e, quem sabe, sumirem.

Até porque, agora, todos nós estamos que testamos a ferramenta acabamos treinando a Inteligência Artificial por trás do ChatGPT.

Esta imagem foi criada por I.A., via DALL·E 2

Então, um caso que vejo como bem delicado é o do redator que escreve textos otimizados para o Google sem domínio da parte estratégica.

Boa parte do seu trabalho é pesquisar um termo específico, estudar bastante os principais resultados que aparecem, elaborar uma pauta e escrever um texto que responda aquela dúvida.

Acontece algo parecido com o copywriter que apela demais para fórmulas e gatilhos. E com o contador de histórias que segue uma única fórmula, como a Jornada do Herói.

É justamente na hora de seguir fórmulas que a IA pode superar um redator, um escritor ou um criador de conteúdo.

E com o ChatGPT assumindo esses de textos, caímos em um novo problema.

Textos sintéticos e artificiais?

Se a criatividade da I.A. é baseada num banco de dados, ela somente vai conseguir repetir e modelar conteúdos que já existem. Então, estamos diante de um risco de massificação de textos óbvios e repetitivos, que não necessariamente checam suas fontes.

Mas, olhando à nossa volta nas redes sociais…

Isso já aconteceu independentemente de qualquer ferramenta de Inteligência Artificial, não?

  • ChatGPT, escreva uma legenda motivacional para complementar essa frase de efeito que vi na internet;
  • ChatGPT, escreva uma breve reflexão sobre a efemeridade da vida e a importância da última celebridade que faleceu;
  • ChatGPT, escreva uma fanfic para o LinkedIn. Pra ser mais específico, escreva uma reflexão sobre encontrar oportunidades para crescer na carreira após se molhar na chuva — como o Vitor Peçanha fez nesse post aqui.
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E poderíamos seguir preenchendo essa lista por horas com textos sintéticos que a IA poderá passar a escrever a partir de agora. Se é que já não está escrevendo.

Talvez, isso ganhe até mesmo um reflexo positivo.

Quando a discussão sobre os podcasts fakes estourou, por exemplo, ela colocou nos holofotes como as pessoas estavam forjando entrevistas para fabricar uma imagem de maior importância e autoridade.

Não demorou para nos questionarmos se os vídeos que aparecem são de podcasts verdadeiros, ou se são apenas monólogos encenados.

A mesma coisa pode acontecer agora enquanto consumimos conteúdo.

— Será que esse texto foi escrito pelo ChatGPT? E se esse texto parece ter sido escrito por IA, será mesmo que é um conteúdo que quero consumir?

Como consumidores, o segredo não foge do senso crítico: muitas pessoas reclamam da qualidade dos conteúdos nas redes sociais, mas poucas se esforçam para filtrar o que chega até elas.

Repare que nem entrei na discussão de originalidade vs. plágio dos textos produzidos dessa forma.

Mas, se um redator fizesse uma colagem de vários conteúdos que ele encontrou sem um processo criativo por trás, seria plágio? Eu certamente iria preferir se ele compartilhasse suas referências.

E você pretende aderir ao ChatGPT?

Depois de interagir bastante com a ferramenta nos últimos dias, ainda não sei dizer o quanto vou usá-la no dia a dia para processos mais manuais. Na escrita em si, acredito que ainda não.

Fiz, inclusive, alguns testes com trechos de um conto de ficção que estou escrevendo e o retorno que tive foram textos extremamente expositivos, narrando de forma explícita em vez de deixar os detalhes falarem por si só.

Pode ser um ponto de partida? Talvez, mas não acredito que deve ser a versão final.

Além de um possível processo por copiar outros trabalhos da base de dados do ChatGPT, um risco que não estou disposto a correr é o de viciar meu processo criativo.

Quanto mais alguém insiste em terceirizar etapas de um texto para a IA, mais dependente daquela tecnologia ela vai se tornar. Até chegar num ponto que somente será possível escrever algo em parceria com o ChatGPT.

Será que vale a pena?

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Da mesma forma que vale tomar cuidado com o extremo de se viciar na ferramenta, acho válido também não fechar as portas.

Num próximo momento que precisar de algum ajuste bem específico para um texto, ou talvez um título, arrisque experimentar o ChatGPT.

Talvez, ele acabe te ajudando.

Se não, vai reforçar que sua versão original era melhor mesmo.

Essa é uma discussão que poderíamos estender por horas e horas sem maiores dificuldades.

Por enquanto, vale encerrar com a melhor pergunta que vi alguém fazer ao novo oráculo.


Eduardo Lopes: explique por que os escritores não deveriam ter medo da concorrência da inteligência artificial.

ChatGPT: (…) porque a IA ainda não é capaz de criar conteúdo com a mesma criatividade e emoção que os seres humanos. Ela (…) ainda não é capaz de criar histórias complexas e intrigantes ou de escrever com a voz única de um escritor. Além disso, a IA não tem a capacidade de se relacionar com os leitores de forma humana e autêntica, o que é fundamental para construir uma base de fãs leais. A IA é uma ferramenta valiosa para escritores, mas não é uma ameaça para eles.


Adorei a ousadia no “ainda não é capaz de…”

Então, não vamos terceirizar para a IA o que ainda podemos fazer melhor que ela e, assim, ela não se torna uma ameaça.


Qual título o ChatGPT daria para esse texto?

Depois de copiar e colar todo o texto anterior, pedi ao ChatGPT para escrever 10 sugestões de títulos:

(…)

  1. “O fim dos escritores e redatores: A chegada do ChatGPT”
  2. “ChatGPT: A ameaça à profissão de escritor?”
  3. “Escrita sintética: A evolução da inteligência artificial na literatura”
  4. “O impacto do ChatGPT na escrita humana”
  5. “O futuro da escrita: Escritores sintéticos?”
  6. “Os desafios da automatização da escrita com o ChatGPT”
  7. “ChatGPT: A nova era da escrita”
  8. “Textos sintéticos x escrita humana: O impacto do ChatGPT”
  9. “A revolução da escrita com o modelo de linguagem ChatGPT”
  10. “A escrita nunca mais será a mesma: O avanço do ChatGPT”.

Por enquanto, ainda prefiro o meu.


Um convite para você que leu até aqui

Especialmente para você, que prefere não terceirizar o que ainda podemos fazer melhor que a Inteligência Artificial, as inscrições para a 13ª turma do curso de Escrita Criativa e Storytelling estão abertas.

São mais de 12h de videoaulas para você aprender tudo o que precisa para colocar sua voz em seus textos e escrever com mais autenticidade, para prender a atenção de seus leitores da 1ª até a última palavra.

Clicando aqui, você pode conferir todas as informações sobre o curso e também um vídeo onde te apresento ele por dentro.

Vale reforçar que o Escrita Criativa e Storytelling não está sempre de portas abertas. A 12ª edição do curso aconteceu em Agosto de 2022 e as inscrições para a 13ª estão abertas até o dia 14/02.

Aproveite para conhecer o curso e tirar todas as suas dúvidas enquanto tá em tempo de garantir sua inscrição.

Se quiser fazer qualquer pergunta, sinta-se em casa. No canto inferior direito da página, tem um chat para você falar diretamente comigo.

Para se inscrever, é só clicar aqui.

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O ano que escolhi ser fraco https://dimitrivieira.com/o-ano-que-escolhi-ser-fraco/ https://dimitrivieira.com/o-ano-que-escolhi-ser-fraco/#respond Wed, 11 Jan 2023 00:31:58 +0000 https://dimitrivieira.com/?p=8726 Depois de um belo detox digital para fechar o ano passado, meu primeiro sinal de vida em forma de conteúdo em 2023 não poderia ser outro.

Antes que você me corrija, talvez não seja exatamente “ser fraco”, mas algo como não ser… forte.

E precisamos voltar um pouquinho para te explicar porque estou abrindo meu 2023 assim.

Se nunca tive uma graduação tradicional em marketing, no dia 8 de janeiro, completei exatos 5 anos do dia que tive “Analista de Marketing” carimbado na minha carteira de trabalho.

Já se foram 5 anos desde a primeira fiz que entrei nos escritórios da Rock Content e comecei a trabalhar — e respirar — escrita, marketing de conteúdo e comunicação.

Pode trazer a beca ou não pode?

Por mais que seja uma data bem simbólica, também representa um peso que sempre carreguei — na maior parte do tempo, de forma inconsciente.

Se não tinha uma graduação, precisava fazê-la na marra.

Minha jornada de trabalho não parava nas 8 horas: eu chegava em casa e estudava ainda mais. Uma única função no CLT não me bastava: eu queria abraçar tudo o que conseguisse justamente para ter uma experiência ampla.

Para você ter uma ideia, certa vez, recebi um prêmio no melhor estilo “funcionário do mês” e uma bonificação de R$ 1.000 por algo novo que criei no trabalho e facilitou demais a vida do pessoal por lá.

Se fosse arriscar, o que você diria que era?

Nada relacionado a LinkedIn. Nem escrita. Nem Storytelling. Nem criação de conteúdo.

Foi uma ferramenta automática para levantar as principais métricas dos blogs e sites, que eram catalogadas manualmente pelos analistas antes. Um processo manual que tomava cerca de 20 minutos passou a ser feito com um clique.

Um misto de análise de métricas com matemática e planilhas que me levou a ter uma reunião com o CEO da Rock Content na época.

E essa vontade de concluir uma graduação prática me acompanhou além do CLT também — com um desejo um pouco megalomaníaco de conseguir desempenhar todos os trabalhos possíveis de um departamento de marketing sozinho.

Isso inclui a estratégia, o processo criativo, a escrita, o design (até mesmo motion design), gravação e edição de vídeos, criação de sites, social media, copywriting, email marketing, tráfego pago e provavelmente algumas coisas que não lembrei de cabeça agora.

O resultado?

Em 2022, cheguei a rodar algumas campanhas envolvendo cada uma dessas etapas 100% por minha conta.

E hoje, tenho uma visão do todo que jamais imaginaria possível no dia 8 de janeiro de 2018.

Mas esse é o lado bonito da moeda.

Nesses 5 anos, colecionei burnouts e também ganhei duas companheiras fiéis: a ansiedade e, mais recentemente, minha terapeuta.

Durante todo esse período, somente tirei férias de verdade em fevereiro de 2019. Em outros momentos, mesmo de férias do CLT, acabava me dedicando ao meu projeto pessoal.

Então, após um final de 2022 insano — que conversamos sobre nesta edição da rebelião acústica —, entrei em 2023 com duas missões principais.

Trabalhar de forma mais inteligente e centralizar menos as coisas.

Para o pessoal mais tradicional, com uma mentalidade antiga, soaria como se eu “não desse conta”. Mas é justamente o oposto: quero dar conta de mais.

Depois da terapia, o primeiro passo foi entrar para uma mentoria (contei mais sobre isso no meu perfil no Instagram no começo da semana) e vem novos passos em breve.

Depois de um belo detox digital para fechar o ano passado, 2023 começou com tudo por aqui.

Que seja um ano de muitas realizações, tranquilidade e saúde para todos nós.

Vamos juntos, que 2023 vai ser foda. 🤘

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Nope: a sociedade da espetacularização e o universo dos criadores de conteúdo https://dimitrivieira.com/nope-sociedade-da-espetacularizacao/ https://dimitrivieira.com/nope-sociedade-da-espetacularizacao/#respond Fri, 09 Sep 2022 14:46:34 +0000 https://dimitrivieira.com/?p=7573 ⚠ Esse texto contém spoilers de “Não! Não olhe!”, do Jordan Peele.

É um privilégio ser contemporâneo de um diretor e roteirista como Jordan Peele.

Logo com seu primeiro filme, “Corra”, levou o Oscar de melhor roteiro original. E com “Nós”, deixou ainda mais nítido que era um dos principais nomes da nova geração do cinema.

Ao lançar “Nope” — “Não! Não olhe!” no Brasil (provavelmente porque “Não olhe pra cima” foi usado no ano passado) — Jordan Peele já estava no patamar de “preciso ver tudo o que ele lançar” para muita gente.

Eu sou uma dessas pessoas.

E não vou mentir: como a barra estava bem alta, principalmente por causa de “Corra”, não saí tão maravilhado assim com o filme de imediato. Mas, depois de alguns dias e digerir um pouco melhor, as alegorias que ele constrói na trama me acertaram em cheio.

Por um motivo simples: as críticas e reflexões que ele levanta sobre Hollywood também encaixam com perfeição no universo da criação de conteúdo.

Um soco na cara dos clichês?

A história de “Nope” se passa nos arredores de Hollywood, num dos cenários mais gastos por eles: os faroestes.

Depois de explorarem esse gênero ao máximo, hoje em dia é cada vez mais raro vermos novas produções nesse estilo ou ambiente. Mais raro ainda é vermos alguma abordagem inédita ali.

O excelente “Ataque dos Cães” é uma rara exceção e o novo filme de Jordan Peele, também. Ainda mais quando ele acrescenta um OVNI à trama e tem um protagonista interpretado por Daniel Kaluuya, que foge completamente do que se imaginaria de um “cowboy protagonista de faroestes”.

Quando nos traz essa visão diferente de um gênero tão gasto, ele dá pista de qual seria a principal temática do filme. Afinal, quem foi que gastou tanto assim os faroestes? Não foi Hollywood? Ou talvez, os criadores de conteúdo?

Além disso, vale uma menção honrosa para a forma como ele brinca com um clichê em um dado momento do filme.

Num dos momentos mais tensos de “Nope”, Jordan Peele nos entrega um alienígena de forma bem previsível. Então, literalmente, dá um murro na cara do clichê.

A espetacularização de tudo

“Um filme sobre espetáculo, e sobre nossa relação sombria com o espetáculo.”

Foi assim que Jordan Peele resumiu “Nope” em sua entrevista para Today. Mas ele também detalhou um pouco mais:

“Quando estamos dirigindo, estamos no trânsito e acontece um acidente que deixe o trânsito mais lento, isso acontece porque todos estão tentando espiar aquele espetáculo horrível.”

Então ele decidiu fazer um filme justamente sobre esse tema e, claro, encontrou uma forma mais discreta de dizer isso na abertura citando a Bíblia: “Lançarei sobre ti imundícies abomináveis, te envergonharei e farei de você um espetáculo.” 

O OVNI da trama, na verdade, é um mero pretexto para nos mostrar a relação das pessoas com a sua “espetacularização”. E como cada um busca, à sua maneira, a fama, o reconhecimento e o retorno financeiro a partir do que poderiam tirar dele.

Visibilidade instantânea a qualquer custo

O repórter do TMZ é a personificação perfeita pelo retorno imediato e a qualquer custo, mas mirando sempre no mínimo custo possível.

Seu único objetivo é ser o primeiro a criar algum registro do espetáculo que as pessoas tanto desejam ver. Seja um novo evento, seja a morte de uma celebridade, ou uma novidade.

Se precisar, pode ter certeza que apelaria para teorias mirabolantes com gravações de má qualidade.

Exploração para retorno imediato (inclusive dos próprios traumas)

No caso de Jupe, ele já havia explorado um trauma da própria vida para transformar em um espetáculo que lhe trouxesse dinheiro: o episódio em que um macaco atacou todo o elenco de um sitcom e ele foi o único a escapar ileso.

Após fazer isso com a própria vida e ver que dava retorno, ele não hesita em fazer também com OVNI e cria uma experiência que as pessoas precisavam pagar para testemunhar aquilo.

Busca idealista pela grande cena

No extremo oposto dos dois primeiros, Holst, o diretor de fotografia que vai até a fazenda para registrar o OVNI com uma câmera mecânica, busca uma única coisa: o registro da grande cena e do grande espetáculo.

Enquanto Jupe e o repórter do TMZ estão dispostos a arriscar a própria vida — desde que tenham um registro monetizável disso —, Holst está disposto a fazer o mesmo para capturar a versão perfeita do espetáculo, mesmo que ninguém veja.

No próprio filme, ele comenta antes que sempre guardava algumas versões de suas filmagens apenas para ele. É a personificação do desejo de se criar uma versão idealista e perfeita, que ninguém jamais verá.

Luta por reconhecimento e justiça históricos, além da fama

No caso de Emerald, ela deseja sim a fama e o reconhecimento, mas para conquistar justiça histórica.

Se a história ignorou o homem negro no cavalo no primeiro registro cinematográfico da história, ela poderia garantir que o primeiro registro de um OVNI seria feito por ela.

Em vez de tentar qualquer registro para ser a primeira, ela faz questão de ter uma prova irrefutável antes de buscar a fama.

Fama como consequência

OJ é um caso à parte na alegoria. Seu grande desejo é seguir com o legado de seu pai e continuar trabalhando ali na fazenda.

O personagem de Daniel Kaluuya mostra quase um desprezo pela espetacularização dos eventos e tem um respeito enorme pelos animais. É esse respeito, inclusive, que facilita que ele descubra que, para não ser levado pelo OVNI, bastava não olhar diretamente para ele.

Sem OJ na história, o desejo dos personagens registrarem aquilo para que outras pessoas pudessem testemunhar poderia acabar num desastre ainda maior.

E na criação de conteúdo?

Daria para fechar com uma pergunta a la quiz de internet: “quem é você na criação de conteúdo?”.

Mas raramente veríamos alguém dizendo que são o personagem do Jupe, ou o repórter do TMZ.

O que vemos de uma forma bem generalizada, na prática, é uma bela corrida até o pote do outro lado do arco-íris — que seria de biscoitos, nesse caso.

O exemplo mais imediato é a morte da Rainha Elizabeth II, e a enxurrada de posts e ensinamentos sobre tudo a partir disso. Desde lições de vida até ensinamentos sobre marketing.

Talvez, você não esteja lendo esse texto assim que foi publicado e o exemplo mais recente seja outro.

Mas essa é a beleza do trabalho que Jordan Peele fez aqui: ele constrói um grande espelho para a nossa “sociedade da espetacularização” e a forma como produzimos e consumimos um conteúdo.

Gastamos e sacrificamos um tema, ou talvez até nós mesmos, ao máximo — enquanto estiver trazendo algum retorno.

Até quando?

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O velho, o mar e um dos melhores livros que li nos últimos anos https://dimitrivieira.com/o-velho-e-o-mar-hemingway/ https://dimitrivieira.com/o-velho-e-o-mar-hemingway/#respond Wed, 01 Jun 2022 12:35:05 +0000 https://dimitrivieira.com/?p=7173

“Eu sei que isso é o melhor que posso escrever na minha vida toda”.


Foi com esse bilhete que Ernest Hemingway entregou a versão original de “O velho e o mar” para seu editor, em 1952.

Um ano depois, a obra lhe rendeu o prêmio Pulitzer e, em 1954, foi fator decisivo para a premiação de Hemingway com o Nobel de Literatura.

Um clássico que, de alguma forma, me escapou por bastante tempo. Logo depois de ler, se tornou minha nova obsessão literária e entraria sem dificuldades para a lista dos meus cinco livros preferidos de ficção.

“O velho e o mar” é um livro que espanta pela simplicidade, além da narrativa direta bem característica de Hemingway. Ao final, você até pode se perguntar se era só isso.

Até você parar para digerir os acontecimentos.

Se você já conhece a obra, as próximas palavras e parágrafos vão te ajudar a relembrá-la e talvez até te incentivem a reler “O velho e o mar”.

Se ainda não conhece, não precisa se preocupar porque não entrego nada da história além da sinopse, para preservar sua experiência e te incentivar a buscar o livro assim que fechar a leitura.


“‘O Velho e o Mar’ poderia ter mais de mil páginas, com detalhes de todos os personagens da aldeia: como ganham a vida, como nasceram, como se educaram, se tiveram filhos, etc. Tentei eliminar tudo o que era necessário para transmitir a experiência ao leitor para que, após ler, isso se torne parte de sua experiência e pareça ter realmente acontecido.

— Ernest Hemingway


Uma breve sinopse para você que ainda não leu

Acompanhamos Santiago, um velho pescador que estava há 84 dias sem pescar grandes peixes e caminhava para perder de vez seu valor em seu vilarejo cubano.

Tanto que o garoto, Manolin, que aprendeu como pescar com Santiago e costumava acompanhá-lo no barco, foi forçado pela família a trabalhar com outros pescadores que ainda tinham sorte.

O velho, então, se prepara para se isolar mar adentro para colocar toda sua experiência de vida à prova, numa jornada que iria fazer dele um herói quando voltasse, ou matá-lo.


“As milhares de vezes que já o demonstrara não significavam nada. Agora ia prová-lo de novo. Cada vez era uma nova vez e, quando o estava fazendo, o velho nunca pensava no passado.”


O conflito e os riscos em jogo

Analisando friamente, os temas principais que parecem direcionar “O velho e o mar” não são grandes novidades:

  • homem vs. natureza;
  • a busca por se provar válido;
  • e a luta pela redenção.

A diferença aqui é a comunhão de Santiago com a natureza e a forma como ele se reconhece na função de pescador.

Mesmo acusado de má sorte, ele não depende de ter esperança para preparar o barco e exercer suas funções de pescador — mesmo há quase 3 meses sem sucesso na pescaria.

E apesar das principais dificuldades serem impostas pela natureza, não vemos Santiago encará-la como oponente em momento algum.


“O velho pensava sempre no mar como sendo la mar, como lhe chamam em espanhol quando verdadeiramente o querem bem (…) Alguns dos pescadores mais novos, aqueles que usam boias como flutuadores para sua linhas e têm barcos a motor (…) ao falarem do mar dizem el mar (…) Falam do mar como de um adversário, de um lugar ou mesmo de um inimigo. Entretanto, o velho pescador pensava sempre no mar no feminino e como se fosse uma coisa que concedesse ou negasse grandes favores; mas se o mar praticasse selvagerias ou crueldades era só porque não podia evitá-lo.”


Quando Santiago fisga um Marlin maior que seu barco, ele trava uma batalha com o peixe, ao mesmo tempo em que está em comunhão com ele.

Em vez de enxergá-lo como algo a ser vencido, o velho apenas se preocupa se ele seria digno de pescar aquele peixe.

Fisgado, o Marlin está preso ao barco, mas também o reboca para ainda mais longe de terra firme. Até que o peixe se torne basicamente uma extensão de Santiago.

Solidão ou Solitude?

Acompanhado do peixe, de seus pensamentos e do desejo pela presença do garoto Manolin, Santiago está sozinho mar adentro.

Numa posição de solidão, isolamento, exclusão e ostracismo, Santiago sempre encontra o caminho para a solitude.


“Já não sonhava com tempestades, nem com mulheres, nem com grandes peixes, nem com lutas, nem com provas de força, nem com sua mulher. Sonhava apenas com lugares e os leões na praia.”


Essa solitude faz com que “O velho e o mar” transmita uma calmaria em extinção nas nossas vidas hoje.

Como ele promove uma verdadeira imersão ao lado de Santiago, as percepções variam, principalmente, sobre a obra trazer uma mensagem otimista ou pessimista.

E aqui, vale entendermos a relação do velho pescador com o autor, Ernest Hemingway.

A redenção de Santiago ou de Hemingway?

Muito do que acompanhamos em “O velho e o mar” vem direto da vivência do escritor: os leões dos sonhos de Santiago, a pescaria e tem ainda uma curiosidade que vale citar.

Quando ia pescar, Hemingway costumava levar uma metralhadora — para atirar em possíveis tubarões que arriscassem atacar sua pesca.

Mas a principal semelhança aparece mesmo nos 84 dias sem pescar.

O aclamado livro “Por quem os sinos dobram” foi publicado pelo autor em 1940. Uma década depois, Hemingway lançou “Do outro lado do rio e entre as árvores” e a recepção pela crítica foi péssima.

Os 84 dias sem grandes pescas de Santiago eram os 12 anos de Hemingway sem um grande novo livro.

Então, quando ele lança Santiago ao mar na história, pode ter certeza que a experiência de Hemingway é a mesma. Um pescador e um escritor prestes a provarem de novo o que já haviam demonstrado milhares de vezes.

Como se a voz do oceano, ou do universo, estivesse lhes perguntando a cada instante: “você está pronto para desistir?”.

E a resposta independe das circunstâncias. É sempre um calmo e nobre “não, ainda não terminei por aqui.”

“O velho e o mar” nos lembra que nem todas as vitórias são visíveis para todos e, ao final, temos uma história maravilhosa que nos mostra que a morte física é inevitável.

Mas o espírito de luta pode ser imortal.


“O homem não foi feito para a derrota — disse em voz alta. — Um homem pode ser destruído, mas nunca derrotado.

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O dia em que aprendi a fazer bolo (ou quase isso) https://dimitrivieira.com/o-dia-em-que-aprendi-a-fazer-bolo/ https://dimitrivieira.com/o-dia-em-que-aprendi-a-fazer-bolo/#respond Thu, 07 Apr 2022 12:27:00 +0000 https://dimitrivieira.com/?p=7188 Nos tempos de faculdade, não era daqueles alunos populares que o curso inteiro conhece, nem fazia questão de ser. Mas uma história que vivi chegou nesse nível.

Um dos cálculos mais complexos que aprendi a fazer durante o curso de Engenharia Elétrica foi o tempo de chegada para a primeira aula. Eram raras as disciplinas que justificavam acordar tão cedo para estar ali na sala assim que o professor chegasse — com exceção dos dias de prova, é claro.

A maioria das matérias exigia um timing perfeito, para chegar nos últimos minutos, ou segundos, antes que o relógio batesse 8h e a aula completasse seus primeiros 30 minutos. Porque, quando isso acontecia, todo seu esforço era em vão e você tomava falta naquele dia.

Nesse dia, devo ter chegado por volta das 7:55 e, enquanto caminhava para dentro da sala, o olhar do professor sinalizava que eu havia acertado os cálculos naquele dia, mas ele parecia desejar que não. Fui em direção a uma das cadeiras mais ao fundo e, antes mesmo de me sentar, escutei ele me chamar pelo nome.

Ele testava o conhecimento dos alunos no melhor estilo primário, com 4 ou 5 fórmulas escritas no quadro, e me perguntou se eu conhecia uma variável específica da segunda fórmula. Para minha sorte, soube responder certo e achei que ele passaria a perguntar para outras pessoas. Que nada.

— E essa variável, Dimitri, o que ela significa?

— E essa?

Depois de responder “não sei” algumas vezes e notar que ele parecia querer provar algo me interrogando, facilitei a vida dele e passei a distribuir “não sei” no automático.

Até que ele perguntou:

— Você sabe, pelo menos, o que é homogêneo?

Respondi que não.

— E você sabe fazer bolo?

Também não, disse no automático.

Então, me lembro que ele citou alguns poucos ingredientes para misturar tudo numa vasilha: farinha, açúcar, ovo. Ele também parecia não saber tão bem como fazer bolo, mas isso pouco lhe interessava.

— Se você colocar o dedo num lado da vasilha e provar, vai ter um sabor. Se fizer isso em outro, terá outro sabor. Isso porque o bolo ainda não está homogêneo…

Ele prosseguiu dizendo que, após misturar, sim, aquela massa estaria homogênea. Despertando algumas risadas na turma, seu olho até brilhava de satisfação. Provavelmente provou o ponto que gostaria e, até hoje, quando me encontro com colegas de faculdade, é comum eles desenterrarem essa história para me perguntar se aprendi a fazer a bolo.

Tanto afeto assim não surge por nada e essa intimidade para me ensinar receitas em plena aula nasceu um pouco antes.

Alguns meses atrás, estava sentado diante dele em seu gabinete. Uma espécie de mini escritório reservado para os professores que precisávamos visitar de tempos em tempos para tentar resolver algum problema, que geralmente não se resolvia.

Dessa vez, estava pedindo demissão do projeto de iniciação científica que ele coordenava. Havia entrado no meio de maio por conta da experiência que tinha na área de Otimização de Algoritmos e, um mês e meio depois, descobri porque aquela iniciação pagava um pouco mais que as outras, oferecendo uma bolsa de R$ 800.

No mês de julho, o mesmo professor que me ensinaria a fazer bolo exigia que os alunos trabalhassem o dobro do tempo por conta das férias: 8 horas em vez de 4.

Depois dessa descoberta, prestes a sair de férias, fui direto para seu gabinete e, além da carga horária, também disse que a área em que estava trabalhando no seu laboratório não era exatamente o que imaginava quando entrei.

Nessa altura do campeonato, já conhecia alguns professores com aquele perfil: queixo levemente erguido para reforçar a superioridade no olhar e um tom de voz de quem acredita ser inatingível — como se alguém tivesse interesse de atingi-lo de alguma forma.

A primeira coisa que ele fez foi ligar para os responsáveis pela bolsa.

— O valor já foi depositado na conta do Dimitri? E não tem como retirar?

O olhar de superioridade se manteve e, ao confirmar o óbvio, ele desligou o telefone e me deu a seguinte ordem:

— Você vai fazer o seguinte: pega a ata que registra os dias de trabalho do pessoal do laboratório e faz um levantamento para mim de quantos dias você trabalhou. Qualquer número menor que um mês, você vai me devolver o valor proporcional aos dias que faltavam.

Expliquei que poderia fazer isso sim, mas que estava trabalhando há um mês e meio e que, se fizesse aquela conta, era ele quem precisaria acertar um valor proporcional ao que faltava. Mas claro que isso jamais aconteceria.

Se a supremacia não se manteve no olhar, ele precisava confirmá-la no discurso.

— Então, tá tudo certo. Até poderíamos nos ajeitar por aqui te colocar em outra área, mas se você não está disposto a trabalhar 8 horas nas férias, você não tem perfil para continuar trabalhando no meu laboratório mesmo não. Pode me devolver a chave do laboratório.

O clássico “não é você que está pedindo para sair, sou eu quem estou te demitindo”.

Coloquei a chave na mesa e não sei como seria a sensação de remover grilhões — daqueles com bolas de ferro — das pernas, mas esse foi um dos momentos em que experimentei o mais próximo disso.

Sobre aquele clichê de comer o pão que o diabo amassou no começo de carreira e tolerar qualquer perrengue… não, obrigado.

Nem o pão, nem o bolo.

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