{"id":5223,"date":"2021-10-14T14:44:47","date_gmt":"2021-10-14T14:44:47","guid":{"rendered":"https:\/\/dimitrivieira.com\/?p=5223"},"modified":"2022-03-07T18:42:17","modified_gmt":"2022-03-07T18:42:17","slug":"missa-da-meia-noite-storytelling","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/dimitrivieira.com\/missa-da-meia-noite-storytelling\/","title":{"rendered":"Missa da Meia-Noite: uma aula surreal de Storytelling constru\u00edda com sutilezas e toques de terror"},"content":{"rendered":"\n

Uma das melhores formas de se aprender mais sobre Storytelling \u00e9 desconstruindo e analisando seus conte\u00fados<\/em> preferidos<\/strong>. Se voc\u00ea me acompanha h\u00e1 mais tempo, provavelmente j\u00e1 me viu dizendo isso.<\/p>\n\n\n\n

Quando digo conte\u00fados, <\/em>vale para m\u00fasicas, filmes e, claro, s\u00e9ries \u2014 como ser\u00e1 o caso do texto de hoje.<\/p>\n\n\n\n

Antes de come\u00e7ar a falar sobre Missa da Meia-Noite, precisamos falar sobre seu diretor e roteirista.<\/p>\n\n\n\n

Mike Flanagan, hoje, \u00e9 um dos maiores nomes quando se trata de filmes e s\u00e9ries de terror.<\/strong> Sua parceria com a Netflix rendeu as produ\u00e7\u00f5es Maldi\u00e7\u00e3o da Resid\u00eancia Hill<\/a> e Maldi\u00e7\u00e3o da Mans\u00e3o Bly.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Depois de apertar o play na Maldi\u00e7\u00e3o da Resid\u00eancia Hill esperando um clich\u00ea sobre mans\u00f5es assombradas, minhas expectativas foram superadas e ganhei uma nova s\u00e9rie preferida entre as produ\u00e7\u00f5es da Netflix.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Desde ent\u00e3o, fa\u00e7o quest\u00e3o de correr para assistir tudo que inclua o nome do diretor.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 se passaram algumas semanas desde que assisti \u00e0 Missa da Meia-Noite e confesso que n\u00e3o sei dizer ainda se superou a Resid\u00eancia Hill, ou n\u00e3o. Ainda estou digerindo tudo o que vi e, talvez, at\u00e9 o final deste artigo, eu consiga me decidir.<\/p>\n\n\n\n

Antes da sinopse, deixa eu te adiantar que este artigo n\u00e3o ter\u00e1 <\/strong>spoilers<\/em><\/strong>.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Mike Flanagan fez um trabalho impec\u00e1vel para entregar cada elemento no momento perfeito.<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o, o m\u00ednimo que posso fazer \u00e9 preservar sua experi\u00eancia caso ainda n\u00e3o tenha assistido.<\/strong> Al\u00e9m de deixar voc\u00ea curioso o bastante para assistir ao primeiro epis\u00f3dio assim que terminar a leitura.<\/p>\n\n\n\n

Uma sinopse para voc\u00ea que ainda n\u00e3o viu<\/h2>\n\n\n\n

Logo nos primeiros segundos, somos apresentados a Riley Flynn numa situa\u00e7\u00e3o delicada.<\/p>\n\n\n\n

Dirigindo embriagado, ele bate o carro, mata uma jovem e fica preso por 4 anos. Aterrorizado pela imagem da garota deitada no asfalto sem vida, seu per\u00edodo na pris\u00e3o dura poucos minutos de tela.<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o, vemos que ap\u00f3s conquistar sua liberdade, ele retorna para sua cidade natal, Crockett Island \u2014 uma ilha em decad\u00eancia com 127 habitantes que parece caminhar para se tornar uma cidade fantasma<\/em>.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Tamb\u00e9m acompanhamos a chegada do Padre Paul Hill \u00e0 ilha, para substituir o antigo Monsenhor, que estava para retornar de uma viagem para Jerusal\u00e9m.<\/p>\n\n\n\n

E claro, eventos sobrenaturais come\u00e7am a acontecer entre os membros da comunidade, que t\u00eam a religi\u00e3o cat\u00f3lica como um forte elo para unir os habitantes.<\/p>\n\n\n\n

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Riley Flynn e Padre Paul Hill.<\/em><\/p>\n\n\n\n

Constru\u00e7\u00e3o natural<\/em> do sobrenatural<\/h2>\n\n\n\n

Quem come\u00e7a a ver Missa da Meia-Noite esperando uma sequ\u00eancia para as Maldi\u00e7\u00f5es<\/em>, tem uma quebra de expectativa inevit\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

Em vez de come\u00e7ar com um evento sobrenatural para te deixar tenso, a evolu\u00e7\u00e3o \u00e9 lenta e o come\u00e7o \u00e9 pacato<\/strong> \u2014 t\u00e3o pacato quanto uma ilha de 127 habitantes seria.<\/p>\n\n\n\n

No in\u00edcio, o foco principal \u00e9 a ambienta\u00e7\u00e3o e n\u00e3o demoramos a nos sentir como um morador de Crockett Island, frequentando as missas do rec\u00e9m-chegado padre aos domingos.<\/p>\n\n\n\n

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Mesmo com o ritmo devagar, sentimos uma tens\u00e3o no ar e aquela cl\u00e1ssica sensa\u00e7\u00e3o de vai dar merda <\/em>\u2014 confirmada aos poucos conforme os eventos sobrenaturais s\u00e3o introduzidos.<\/p>\n\n\n\n

E aqui, o ritmo lento \u00e9 uma pe\u00e7a-chave para construir uma verdadeira experi\u00eancia imersiva<\/strong> e vivenciarmos cada momento como membros da comunidade.<\/p>\n\n\n\n

Por\u00e9m, outro elemento tamb\u00e9m \u00e9 fundamental na constru\u00e7\u00e3o da tens\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A dualidade na trama<\/h2>\n\n\n\n
\"\"\/<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Enquanto Riley Flynn retorna \u00e0 ilha como ateu, ap\u00f3s buscar por Deus em todas as religi\u00f5es poss\u00edveis enquanto estava preso, temos tamb\u00e9m a chegada do padre.<\/p>\n\n\n\n

Essa \u00e9 uma dualidade bem evidente na s\u00e9rie e, desde o primeiro epis\u00f3dio, traz \u00e0 tona diversas discuss\u00f5es sobre religi\u00e3o.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Uma sequ\u00eancia incr\u00edvel tamb\u00e9m deixa isso claro nos primeiros minutos de s\u00e9rie, revezando algumas cenas da celebra\u00e7\u00e3o da missa com o encontro dos Alco\u00f3licos An\u00f4nimos.<\/p>\n\n\n\n

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Outra dualidade t\u00e3o importante quanto essa aparece na rela\u00e7\u00e3o de Riley com outra personagem que acaba de retornar \u00e0 ilha, Erin Greene.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto o retorno dele se justifica por ter tirado uma vida, o dela acontece por estar gr\u00e1vida e prestes a dar uma nova vida<\/em>.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Por conta dessa dualidade, temos discuss\u00f5es incr\u00edveis sobre a exist\u00eancia, o significado da vida e o que acontece ap\u00f3s a morte.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

\n\n\n\n

\u201cO terror nos d\u00e1 a oportunidade de olhar de verdade para n\u00f3s mesmos e para as coisas que nos assustam, que nos perturbam, como sociedade e como indiv\u00edduos.\u201d<\/p>

\u2014 Mike Flanagan, em entrevista para o NY Times<\/a><\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

\n\n\n\n
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Riley Flynn e Erin Greene.<\/em><\/p>\n\n\n\n

O melhor projeto que Flanagan jamais faria<\/h2>\n\n\n\n

Para quem gosta de uma hist\u00f3ria de supera\u00e7\u00e3o, a primeira vez que Mike Flanagan apresentou o projeto de Missa da Meia-Noite foi em 2014.<\/p>\n\n\n\n

Na \u00e9poca, ningu\u00e9m se interessou em produzir a s\u00e9rie e ela foi recusada pela pr\u00f3pria Netflix.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto dirigia outros filmes, Flanagan encontrou uma forma de inclui-la como easter egg <\/em>e um livro com o mesmo t\u00edtulo (Midnight Mass<\/em>) aparece em Hush, de 2016, e Jogo Perigoso, de 2017.<\/p>\n\n\n\n

\"\"\/<\/figure><\/div>\n\n\n\n

Al\u00e9m da demora para emplacar, tamb\u00e9m \u00e9 a produ\u00e7\u00e3o mais vulner\u00e1vel<\/strong> do diretor \u2014 que trabalha com adapta\u00e7\u00f5es na maioria de seus filmes e s\u00e9ries.<\/p>\n\n\n\n

Onze anos se passaram desde que ele come\u00e7ou a trabalhar no roteiro da s\u00e9rie e muito do que vemos nasce da experi\u00eancia pessoal de Flanagan.<\/p>\n\n\n\n

Quando crian\u00e7a, ele morou por algum tempo numa ilha \u2014 Governors Island, que fica na ba\u00eda de Nova Iorque. Ele tamb\u00e9m foi coroinha e se assustou com algumas passagens do Antigo Testamento quando decidiu estud\u00e1-lo.<\/p>\n\n\n\n

Mas a inspira\u00e7\u00e3o mais vulner\u00e1vel vem do per\u00edodo que Mike Flanagan teve problemas com o alcoolismo:<\/p>\n\n\n\n

\n\n\n\n

\u201cMeu maior medo n\u00e3o era morrer em um acidente de carro, ao dirigir b\u00eabado. Era que eu mataria outra pessoa e sobreviveria.<\/strong>\u201d<\/p>\n\n\n\n

\u2014 Mike Flanagan, em entrevista para o NY Times<\/a><\/p>\n\n\n\n

\n\n\n\n

Reflex\u00f5es surreais que s\u00f3 uma boa hist\u00f3ria pode entregar<\/h2>\n\n\n\n

Com esses elementos e tanta inspira\u00e7\u00e3o na vida pessoal do diretor, Missa da Meia-Noite entrega uma experi\u00eancia que s\u00f3 as melhores hist\u00f3rias podem proporcionar.<\/p>\n\n\n\n

Seria f\u00e1cil transformar a trama num conflito direto entre o ateu e os religiosos, ou at\u00e9 mesmo entre o ateu e o padre.<\/p>\n\n\n\n

Em vez disso, ele nos permite vivenciar todos os acontecimentos ao lado dos personagens, enquanto a religi\u00e3o entra como uma esp\u00e9cie de subg\u00eanero para contextualizar os eventos sobrenaturais.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

\n\n\n\n

\u201cQuando falamos sobre a vida ap\u00f3s a morte e a alma, estamos falando sobre fantasmas. N\u00e3o conseguimos evitar ser atra\u00eddos pela ideia de que a morte n\u00e3o \u00e9 o fim, e que veremos as pessoas que perdemos novamente. Essa ideia \u00e9 uma das coisas que me interessou em primeiro lugar pelo terror, e est\u00e1 por tr\u00e1s tanto das nossas religi\u00f5es, quanto das nossas fic\u00e7\u00f5es de terror.\u201d<\/p>\n\n\n\n

\u2014 Mike Flanagan, em entrevista para o NY Times<\/a><\/p>\n\n\n\n

\n\n\n\n

Algumas pessoas at\u00e9 podem entender que a s\u00e9rie critica a religi\u00e3o, mas n\u00e3o \u00e9 bem assim.<\/p>\n\n\n\n

As cr\u00edticas sociais da s\u00e9rie s\u00e3o direcionadas ao fanatismo religioso. Principalmente, ao ponto em que podemos chegar quando interpretamos as situa\u00e7\u00f5es sempre a nosso favor.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Os di\u00e1logos s\u00e3o um espet\u00e1culo \u00e0 parte e, sobre o final, vou dizer apenas tr\u00eas palavras.<\/p>\n\n\n\n

Surreal. Cat\u00e1rtico. Apote\u00f3tico.<\/p>\n\n\n\n

Geralmente, esses adjetivos s\u00e3o exatos de forma exagerada, mas aqui n\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

S\u00f3 vou parar por aqui para preservar sua experi\u00eancia com a s\u00e9rie, e porque fiquei com vontade de rever o final s\u00f3 de falar sobre ele.<\/p>\n\n\n\n

Se ainda n\u00e3o assistiu, pode se preparar para maratonar <\/em>e, depois, fique \u00e0 vontade para voltar e me agradecer. Ali\u00e1s, tenho bastante inveja de voc\u00ea, porque voc\u00ea est\u00e1 prestes a ter a experi\u00eancia de ver uma das melhores s\u00e9ries da Netflix pela 1\u00aa vez.<\/p>\n\n\n\n

Agora, \u00e9 a sua vez de me dizer.<\/p>\n\n\n\n

Conhece alguma outra s\u00e9rie com a narrativa t\u00e3o bem cuidada e trabalhada quanto essa? Me diz nos coment\u00e1rios, que estou curioso para conhecer sua recomenda\u00e7\u00e3o.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Desconstruir e estudar sua s\u00e9rie preferida \u00e9 uma das melhores formas de se aprender Storytelling na pr\u00e1tica. Assim, voc\u00ea vai entende quais foram as t\u00e9cnicas e m\u00e9todos que despertaram tanto seu interesse e identifica\u00e7\u00e3o. \u00c9 isso que faremos agora com Missa da Meia-Noite.<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":5224,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[29,3],"tags":[],"class_list":["post-5223","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-analises-de-filmes-e-series","category-storytelling"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/dimitrivieira.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/5223","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/dimitrivieira.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/dimitrivieira.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/dimitrivieira.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/dimitrivieira.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=5223"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/dimitrivieira.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/5223\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/dimitrivieira.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/5224"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/dimitrivieira.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=5223"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/dimitrivieira.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=5223"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/dimitrivieira.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=5223"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}