Dimitri Vieira

O podrão resolve (e a Síndrome de The Sims)

O podrão resolve (e a Síndrome de The Sims)

No fim de noite, pós-balada ou algumas rodadas num bar, nunca vi alguém buscar hambúrguer artesanal para encerrar a noite.

Nem sei se existe essa possibilidade e, se houvesse, ainda aposto minhas fichas que a procura por um podrão seria maior.

Aquele sanduíche mais simples, com todos os ingredientes possíveis, feito na chapa.

Traz até uma certa nostalgia lembrar de alguns finais de noite comendo lanches assim e, com certeza, vários livros poderiam ser escritos apenas observando conversas entre amigos nesses momentos.

O hambúrguer artesanal não chega nem perto disso.

Pois então, na última semana, me vi numa discussão com um amigo sobre duas publicações que tinham objetivos parecidos.

Uma delas era extremamente sofisticada, com um card trabalhado na identidade visual da pessoa criadora — num estilo que você poderia reconhecer a autora só de bater o olho, se você conhece o trabalho dela.

A outra trazia uma imagem extremamente simples tirada de um banco de imagem, daquelas que qualquer pessoa poderia ter compartilhado.

Já viu onde quero chegar?

Os designers de plantão que me desculpem, mas tem momentos que uma identidade visual pode, sim, atrapalhar.

E o motivo está dois parágrafos atrás: a cara do post bem simples, de que “qualquer pessoa poderia compartilhar”, pode falar mais alto em certos momentos e ajudar na performance.

Foi o caso dessa discussão: a versão mais simples teve uma entrega melhor em todos os aspectos que você imaginar.

O podrão resolve.

E para incomodar um pouco mais os designers, faço o mea culpa por aqui para dizer que, muitas vezes, aprimorar o aspecto visual não passa de perfumaria.

Desde que passei a atuar como meu próprio designer, desenvolvi algo que batizei de Síndrome de The Sims.

(Um breve parêntese para dizer que, recentemente, essa era de ser meu próprio designer acabou. Podemos falar mais sobre isso depois.)

Nesse jogo de simulação de vida, você pode criar personagens e controlar suas vidas diárias, além de construir casas, decorá-las, ter empregos, fazer amigos, ter relacionamentos, e basicamente viver como se fosse uma segunda vida virtual.

Nos anos 2000, passei algumas horas jogando à minha maneira.

Digitava klapaucius, seguido de vários “;!” e transformava meu personagem em milionário. Para quem quiser testar, esse era o código — a manha, como dizíamos na época — para ficar rico no jogo.

Depois disso, construía uma mansão e reformava a casa inteira, para deixar tudo lindo conforme minha mente arquiteta infantil.

Com tudo pronto, chegava a hora de jogar de verdade a parte da simulação de vida e perdia a graça para mim.

Lembro de construir incontáveis casas no jogo, mas não me lembro de passar uma hora sequer simulando a vida de um personagem ali dentro.

Foi o que me vi fazendo algumas vezes desde que escolhi apostar em cards e carrosséis para criar conteúdo.

Certas vezes, criei a versão 5.0 mais bonita e refinada de algo que era funcional na 1ª versão. Em alguns momentos, essa versão 5.0 sequer saiu pro mundo.

Além do processo de aprendizado, o design se tornou uma atividade de descompressão para eu exercer a criatividade sem torrar tanto meus neurônios.

E antes que os designers decidam me xingar no Twitter, esse é o processo natural em qualquer atividade criativa.

O problema é que não existe klapaucius na vida real para me sustentar enquanto arrumo a casa.

Se você me perguntar sobre identidade visual, com o tempo, é maravilhoso pensar em algo que remeta à sua marca logo que as pessoas batam o olho.

Mas esse não deve ser o foco, especialmente para quem está começando.

Em vez de gourmetizar toda a experiência, é melhor começar servindo um podrão com guardanapo personalizado e evoluir aos poucos.

Até porque, pensando no consumidor, ninguém vive de podrões na madrugada para sempre.

Se tem algo que você deseja começar, mas continua travado porque falta algo, vale sempre se perguntar se é apenas perfumaria ou não.

Porque, na maioria das vezes, um bom podrão resolve.

Sem passas e sem purê de batata, por favor.

Dimitri Vieira

Sou um escritor e produtor de conteúdo, especializado em Escrita Criativa, Storytelling e LinkedIn para Marcas Pessoais. Minhas maiores paixões sempre foram a música, o cinema e a literatura. Escrevendo textos na internet, consegui unir o melhor desses três universos, e o que era um hobby acabou me transformando em LinkedIn Top Voice e, hoje, se tornou minha profissão.

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