Minha “formação” no Marketing, na Escrita e no Storytelling nunca aconteceu de forma tradicional, mas segue acontecendo graças a cursos onlines de escrita e, claro, vários livros.
Então, decidi montar uma lista que vou atualizando sempre que possível com os melhores livros de Storytelling e de Escrita Criativa que já li.
Se algum livro específico não está na lista, pode ser que eu tenha lido e não tenha gostado ou, claro, que eu ainda não tenha lido. Então, fique à vontade para compartilhar suas recomendações nos comentários.
Outro detalhe que vale adiantar é que — tanto o Storytelling, quanto a Escrita Criativa — são bem abrangentes e podem ser aplicados em diversos cenários. Então, minha lista vai trazer diversas opções para te ajudar a entender qual a melhor opção para você, cobrindo tópicos como:
- escrita de ficção;
- escrita de não ficção;
- construção de roteiros;
- marketing e storytelling para negócios;
- música e escrita de não ficção.
Vale também dizer que um livro focado numa área específica sempre pode te ajudar a ter ideias mais inusitadas numa área diferente. Por exemplo, um livro de ficção pode te ajudar a escrever melhor e ainda a contar melhores histórias num texto de não ficção, ou até mesmo num blog post sobre marketing.
Então, é só escolher seu principal interesse atual e boa leitura.
1. Sobre a escrita, por Stephen King
Foco principal: escrita de ficção.
Decidi começar essa lista logo com um dos livros mais conhecidos e comentados sobre escrita por dois motivos:
- Ele é presença certa em listas como essa e tem boas chances de você já conhecê-lo;
- Ele é — de longe — o livro que menos gosto nessa lista.
Nada pessoal contra o Stephen King, mas é que o ponto que mais me marcou no livro Sobre a escrita, quando ele fala sobre o uso de advérbios, também aparece em várias outras obras do assunto.
Claro que a forma como o mestre do terror fala sobre isso tem seus toques de peculiaridade:
“Acredito que o caminho para o inferno está pavimentado com advérbios (…) eles são como dentes de leão. Se você tem um em seu gramado, parece bonito e único. Se você não conseguir eliminá-lo, no entanto, encontrará cinco no dia seguinte… cinquenta no dia seguinte… e então, meus irmãos e irmãs, seu gramado estará total e completamente coberto de dentes de leão.”
— Sobre a escrita, por Stephen King
2. Consider This: Moments in My Writing Life after Which Everything Was Different, por Chuck Palahniuk
Foco principal: escrita de ficção.
Se o primeiro da lista é o meu menos favorito entre os nove listados aqui, este é de longe o meu preferido. Tanto que meu primeiro artigo de 2020 foi justamente sobre ele.
O título do artigo soa sensacionalista, eu sei, mas é a mais pura verdade.
No recém-lançado Consider This, Chuck Palahniuk — o autor do Clube da Luta — traz inúmeras técnicas, conceitos e exemplos práticos para melhorar a escrita de qualquer pessoa disposta a aplicá-los.
E a grande maioria das lições trazidas por ele fogem do que nos acostumamos a encontrar nos livros sobre escrita, além dele também reforçar o coro de King contra os advérbios.
“Uma boa história pode deixar todos em silêncio. Mas uma grande história evoca histórias semelhantes e une as pessoas. Cria comunidade e nos lembra que nossas vidas são mais parecidas do que diferentes.”
— Consider This: Moments in My Writing Life after Which Everything Was Different, por Chuck Palahniuk
3. Story: substância, estrutura, estilo e os princípios da escrita de roteiro, por Robert McKee
Foco principal: construção de roteiros.
Para manter o nível lá em cima, vamos falar logo do que seria a bíblia do Storytelling. Robert McKee é a maior autoridade no mundo quando se fala em técnicas para contar boas histórias.
Ele participou da origem da Pixar, nos bastidores do primeiro Toy Story, e é conhecido como um guru dos roteiristas de Hollywood — seus alunos já ganharam mais de 60 Oscars e 170 Emmys.
Neste livro, ele disseca todos os principais pontos sobre como construir um excelente roteiro e traz inúmeros exemplos práticos.
A leitura não é fácil, porque é daqueles livros que você precisa ler estudando e tomando notas para aproveitá-lo o melhor possível. Mas, se você quer se especializar em storytelling, essa é uma leitura obrigatória no seu currículo.
“Os roteiristas precisam entender a relação da estória com a vida: a estória é uma metáfora para a vida. (…) A estória deve abstrair-se da vida para descobrir suas essências, mas sem tornar-se uma abstração que foge do senso de vida-como-é-vivida. Uma estória tem de ser como a vida, mas não literal a ponto de não ter nenhuma profundeza ou sentido além do que é óbvio para todo mundo.”
— Story: substância, estrutura, estilo e os princípios da escrita de roteiro, por Robert McKee
4. The Best Story Wins, por Matthew Luhn
Foco principal: marketing e storytelling para negócios.
Seguindo pela ordem, se o McKee participou da Pixar em sua origem, o Matthew Luhn trabalhou lá por 20 anos — desde Toy Story 2, participando de todas as produções nesse período.
O título completo de seu livro traduzido é The Best Story Wins: How to Leverage Hollywood Storytelling in Business and Beyond. Em tradução livre, A melhor história ganha: como utilizar a narração de Hollywood nos negócios e além.
Com toda a experiência acumulada na Pixar, Matthew Luhn se tornou um especialista em emocionar as pessoas por meio do Storytelling. Hoje, ele trabalha como consultor de grandes empresas americanas ensinando como aplicar os mesmos princípios da Pixar no universo corporativo.
“Seja lá o que você fizer, não deixe sua história ficar estática — os personagens devem mudar. Caso contrário, sua história perderá força e seu público rapidamente perderá o interesse. Como disse Will Rogers: ‘Mesmo se você estiver no caminho certo, você será atropelado se ficar apenas sentado lá’.”
— The Best Story Wins, por Matthew Luhn
5. All Marketers Are Liars, por Seth Godin
Foco principal: marketing e storytelling para negócios.
Ainda dentro do tema Storytellng para Negócios, um dos meus livros preferidos é o do Seth Godin. No próprio título, o autor já dá uma amostra da sua irreverência.
Todos os marketeiros contam mentiras. Não, todos os marketeiros contam histórias.
Nesta obra, Seth Godin discute bastante sobre o Storytelling no Marketing e mostra os possíveis efeitos de apostarmos em histórias falsas para conquistar o público.
“Uma fraude é um discurso usado no Marketing que, ao ser revelado como uma história, deixa quem acreditou nela com raiva. É enganoso. Uma fraude é uma história contada unicamente para beneficiar quem está por trás do Marketing. Uma fraude é marketing com efeitos colaterais.”
— All Marketers Are Liars, por Seth Godin
6. A Jornada do Escritor: Estrutura Mítica para Escritores, por Christopher Vogler
Foco principal: construção de roteiros.
Falando sobre o Storytelling em si, uma das estruturas mais conhecidas é a Jornada do Herói. Ela nasceu a partir de uma análise bem aprofundada feita por Joseph Campbell, em seu livro O Herói das Mil Faces.
Ao longo da obra, Campbell analisa diversas histórias e encontra nelas uma espécie de técnica comum às lendas, mitos e fábulas antigas — o personagem passa por transformações sequenciais até se tornar um herói.
Essa análise original continha 17 etapas e foi adaptada por Christopher Vogler no livro A Jornada do Escritor, além de ser condensada em 12 etapas para conduzir ao sucesso na construção de uma história.
Para conhecer a fundo os princípios da Jornada do Herói em vez de utilizá-la como um checklist, após pesquisar sobre ela no Google e clicar no primeiro resultado, esse livro é o caminho para você.
(Nada contra os resultados que você vai encontrar no Google. O 1º resultado para “jornada do herói”, inclusive, é um texto meu, que escrevi para o blog da Comunidade Rock Content — e um excelente ponto de partida. Só não dá para aprofundar tanto em um conteúdo de 1.500 palavras.)
“Percebi que as boas histórias estavam afetando os órgãos do meu corpo de várias maneiras, e as realmente boas estavam estimulando mais de um órgão. Uma história eficaz agarra seu intestino, aperta sua garganta, faz seu coração disparar e seus pulmões bombearem ar, traz lágrimas aos olhos ou uma explosão de riso nos lábios.”
— A Jornada do Escritor: Estrutura Mítica para Escritores, por Christopher Vogler
7. The Art of Nonfiction: A Guide for Writers and Readers, por Ayn Rand
Foco principal: escrita de não ficção.
Ayn Rand é autora de A Revolta de Atlas, o segundo livro mais influente nos EUA, perdendo apenas para a Bíblia.
Em seu livro sobre não ficção, ela vai sempre direto ao ponto e traz dicas extremamente práticas para escritores e leitores. Tudo de forma bem clara para desmistificar vários pontos sobre a escrita.
“Não mire no drama conscientemente (principalmente se você é um escritor iniciante). Se o fizer, o resultado não será dramático, mas artificial. Deixe qualquer drama surgir naturalmente do seu material.”
— The Art of Nonfiction: A Guide for Writers and Readers, por Ayn Rand
8. Try This At Home: Adventures in songwriting, por Frank Turner
Foco principal: música e escrita de não ficção.
Não tenho muito o costume de ler o mesmo livro mais de uma vez, mas resolvi abrir uma exceção para este.
No excelente Try This At Home: Adventures in Songwriting, o cantor britânico Frank Turner abre o jogo sobre o processo criativo por trás de 36 das suas principais músicas. Depois disso, várias delas ganharam um novo significado para mim.
Em vez de ser um livro sobre dicas de criatividade, ele é um livro sobre processos criativos na prática. E foi incrível notar que o processo de escrita dele não é tão diferente assim do meu.
Inspirado nele, inclusive, decidi fazer algo parecido e contar sobre o processo criativo por trás dos três artigos que mais me orgulho de ter escrito. Clicando aqui, você pode conferir esses relatos.
“As músicas podem contar histórias. Elas podem iluminar o funcionamento interno da mente perturbada do autor. Elas podem entregar mensagens. Elas podem incitar tumultos. Elas podem se dirigir a um amante ou ao mundo inteiro. Elas podem nos dizer coisas sobre nós mesmos, ou elas podem nos fazer cantar junto com cantigas sem sentido, mas cativantes. Numa época em que pura poesia é uma arte em extinção, as letras das músicas populares são, para a maioria das pessoas, o encontro mais frequente e profundo com esse tipo de literatura.”
— Try This At Home: Adventures in songwriting, por Frank Turner
9. A Million Miles in a Thousand Years: What I Learned While Editing My Life, por Donald Miller
Foco principal: construção de roteiros, com uma pitada de auto-ajuda.
Entre os livros que já li sobre Storytelling, este é o único que fala sobre as técnicas para contar boas histórias enquanto conta uma história.
Donald Miller é o autor de Blue Like Jazz, um livro sobre parte de sua vida na faculdade que foi transformado em um filme com o mesmo nome, em 2012.
No processo de produção do filme, ele teve a oportunidade de recontar e editar sua vida seguindo as melhores práticas para construir um bom roteiro.
E esse processo é contado em detalhes no livro A Million Miles in a Thousand Years: What I Learned While Editing My Life. Nessa trajetória, Donald Miller participa de um workshop ministrado por Robert McKee e também cita vários livros.
Entre várias reflexões incríveis que ele traz, uma delas é que os princípios que constroem uma história interessante são os mesmos que constroem uma vida interessante.
O capítulo final do livro também é um espetáculo à parte. Já reli três vezes e tenho certeza que ainda vou revisitá-lo mais algumas vezes.
“O objetivo de uma história nunca é o fim, lembre-se. É sobre o seu personagem sendo moldado durante o conflito. Em algum momento, a costa atrás de você para de diminuir, você rema e se pergunta por que os mesmos esforços que costumavam te mover agora apenas agitam o barco.”
— A Million Miles in a Thousand Years: What I Learned While Editing My Life, por Donald Miller
10. Story Genius, por Lisa Cron
Foco principal: escrita de ficção.
Em tradução livre para o português, o subtítulo diz “como usar a neurociência para ir além de esboçar e escrever um romance fascinante (antes de perder três anos escrevendo 327 páginas que não levam a lugar nenhum)”.
E te adianto que o livro é tão bom quanto o subtítulo é longo.
Fiquei conhecendo a autora, Lisa Cron, em sua participação no podcast Bulletproof Screenwriting (confira aqui o episódio). Logo de cara, ela diz que, se dependesse dela, queimaria todas as cópias de livros da Jornada do Herói.
A partir dali, ela já me conquistou, porque tem uma abordagem totalmente contrária a fórmulas prontas.
Em Story Genius, ela passa aproximadamente um terço do livro falando sobre a construção de bastidores e personagens antes da história começar. Depois, ela passa por algumas premissas e te guia pelas cenas principais da sua história antes de começar de fato a colocar a mão na massa.
E um detalhe que achei fantástico foi que a Lisa Cron não usa exemplos de obras consagradas como foco principal para ilustrar seus pontos. Em vez disso, ela expõe uma espécie de consultoria em tempo real para mostrar como se contar uma história, enquanto a história é construída.
“Pense na luta interna do protagonista como o fio elétrico do romance. É exatamente como o terceiro trilho em um trem do metrô — o trilho eletrificado que fornece a energia que impulsiona o carro. Sem ele, aquele trem, por mais bem construído que seja, fica parado em ponto morto, irritando a todos, principalmente na hora do rush. No fim das contas, todas as histórias são orientadas e comandadas pelos personagens.”
— Story Genius, por Lisa Cron
Dica bônus: Audible
Não se trata de um livro, mas de uma excelente maneira para você escolher um dos livros da lista e começar a ouvi-lo agora mesmo.
Audible é a plataforma de audiobooks da Amazon e vários livros são narrados pelos próprios autores, que, em alguns casos, trazem alguns comentários extras que não estão presentes no livro.
Ao criar o seu cadastro, você tem direito a um mês de graça e recebe um crédito para escolher qualquer livro da plataforma gratuitamente.
Então, é só ajeitar seu fone de ouvido e bom proveito!
Neste artigo, listei meus 10 livros preferidos sobre Escrita e Storytelling. Se você sentiu falta de algum livro, pode ser que eu ainda não o conheça. Me conta nos comentários para seguirmos trocando indicações! 🙂