Para quem estuda Storytelling, uma das coisas mais interessantes é estudar e reconhecer novas estruturas para contar histórias.
Basta uma pesquisa no Google e é inevitável que você dê de cara com as 12 (ou 17) etapas da Jornada do Herói.
Não é à toa que praticamente todo curso que fala em Storytelling como parte da sua ementa, mas não tem a arte de contar histórias como tema principal, costuma focar apenas na Jornada do Herói.
Só que nem sempre ela é a melhor opção para estruturar sua história.
Para grandes épicos com finais felizes, ela costuma funcionar perfeitamente. Basta reconhecer a estrutura em alguns filmes para notar isso: Senhor dos Anéis, Harry Potter e Star Wars funcionam como ótimos exemplos.
Agora, se você precisa contar uma história persuasiva e breve, as 12 (ou 17) etapas podem não te ajudar tanto assim.
Porém, a estrutura que Lisa Cron apresenta no excelente Story or Die pode ser uma bela solução.
Em seu novo livro, ela não demora muito para apresentar as 4 etapas a seguir.
Depois, ela segue destrinchando, apresentando e construindo exemplos mais detalhados sobre como usar a neurociência para engajar e persuadir as pessoas nos negócios e na vida.
Então, o que vou te apresentar a seguir é apenas um resumo, mas que funciona perfeitamente como um guia quando você precisar contar uma história persuasiva.
1. A Crença Errada
Nessa primeira etapa, precisamos identificar e apresentar para as pessoas um pensamento equivocado comum e que, provavelmente, esteja impedindo que elas conquistem algo que desejam.
2. A Verdade
Se a crença acima está impedindo que sua audiência conquiste os resultados desejados, a verdade é a principal mensagem que você deseja passar e que vai ajudar as pessoas conquistá-los.
Aqui, faço questão de cometer o pleonasmo de dizer que a verdade precisa ser real. Porque, muitas vezes, o pessoal costuma ir longe demais no mercado digital ao acreditar que os fins justificam os meios.
3. A Percepção
Com os dois primeiros pontos definidos, agora é o momento de construir um evento para proporcionar uma experiência que permita que as pessoas vejam que sua crença estava errada.
Se não parece algo tão simples assim, é porque realmente não é.
O caminho natural seria apontar para a pessoa: sua crença está errada, a verdade é esta. Mas provavelmente você sabe que uma afirmação assim dificilmente ajuda a convencer alguém e, muitas vezes, somente polariza ainda mais as opiniões.
No livro, para mostrar que existe até um nome para esse fenômeno, Lisa Cron abre aspas para a neurocientista Tali Sharot. E farei o mesmo aqui.
“Apresentar às pessoas informações que contradizem suas opiniões pode levá-las a apresentar novos contra-argumentos que fortalecem ainda mais sua visão original. Isso é conhecido como Efeito Bumerangue.”
— Tali Sharot (retirado do livro Story or Die, por Lisa Cron)
Por isso, é fundamental apenas proporcionar a experiência por meio da história e deixar que a própria pessoa se decida.
4. A Transformação
Após a percepção, vem a cereja do bolo.
Com o protagonista transformado, fica mais fácil que sua audiência também se transforme.
Tudo isso fica ainda mais fácil de entender pela definição que Lisa Cron dá para uma história.
“Uma história é sobre uma realização interna que leva a uma transformação externa. No início, o protagonista tem uma crença interna que não é verdadeira — essa crença errada é o que impede seu público de ouvir sua chamada à ação. Os acontecimentos da história — o problema inevitável que o protagonista enfrenta — irão forçá-los a enfrentar e superar sua crença errada para resolver o problema.”
— Lisa Cron, Story or Die
Um exemplo que você provavelmente conhece
Em 2014, a Always lançou a campanha #LikeAGirl, que foi adaptada no Brasil para “Tipo Menina”. Se você não conhece o vídeo, é só apertar o play logo abaixo.
Se você já conhece, vale chamar a atenção para algumas conquistas da Always com essa campanha:
- mais de 69 milhões de visualizações com o vídeo original no YouTube;
- mais de 400 mil menções em redes sociais quando a versão de 1 minuto do vídeo foi transmitida no Super Bowl, em 2015;
- Emmy de melhor comercial de 2015.
E o mais importante foi a influência que a ação teve na mudança da conotação negativa que expressões como “Like a Girl”, “como uma garota” ou “Tipo Menina” tinham. Tanto que a Always recebeu um reconhecimento da própria ONU, em Março de 2015, pelo impacto que teve no empoderamento feminino em todo o mundo.
Agora, vale demais apertar o play para reconhecer as 4 etapas da estrutura de Lisa Cron no vídeo. E não preciso nem dizer qual seria a crença errada, preciso?