Não vou chover no molhado e falar sobre as questões éticas por trás do plágio. Nem dizer que ele está configurado como Crime de Violação aos Direitos Autorais no Artigo 184 do Código Penal — ok, nessa o Google me ajudou.
Você sabe disso, eu sei disso e quem copia também sabe. Mas mesmo assim acontece.
Acontece, porque quem plagia aposta na distância até o autor e na expectativa de não ser descoberto. Caso seja, ainda pode alegar que foi apenas coincidência.
Afinal, nenhuma ideia é original. Tudo é uma cópia de uma cópia de uma cópia — já diria o narrador interpretado por Edward Norton no Clube da Luta. Ou Chuck Palahniuk, autor do livro que inspirou o filme. Ou ainda a banda americana Nine Inch Nails.
E de fato, é verdade. Hoje, é praticamente impossível ter uma ideia que não tenha sido influenciada por algo que você consumiu ou teve contato em algum momento na vida.
Tudo o que somos agora é tudo o que já existiu.
— Frank Turner
Em alguns casos, a influência pode ser inconsciente ou tão sutil que passa despercebida e não é mencionada.
Em outros, ela é tão clara que incentiva a escrita de outro conteúdo sobre o mesmo assunto, ou até o mesmo conteúdo com palavras trocadas — o clássico “copia, mas não faz igual” dos tempos de escola e faculdade. Porém, a referência não aparece.
Nesses cenários, a linha entre a inspiração e a cópia se torna tênue e temos problemas. Tanto pela perspectiva do leitor, quanto pela de quem produziu o original.
Pela perspectiva do produtor de conteúdo
Como escritor de conteúdos online, um dos melhores retornos e satisfações que tenho é quando vejo algo que escrevi encorajando um leitor a produzir outro texto, mesmo que a visão dele seja diferente da minha.
A primeira vez que isso aconteceu foi com meu 7.º artigo aqui no LinkedIn, “Supere seu medo de escrever”, publicado em 27/06/2018. Assim que a Mirian Garcia leu o texto, ela publicou o seu: “E o quê eu tenho a perder?”.
A mais recente foi nesta semana, com o artigo escrito pelo Esdras Felipe com a reflexão sobre ele ser ou não um escritor, inspirada por um texto que escrevi sobre os efeitos da síndrome do impostor sobre escritores.
Em ambos os casos, somente soube que os inspirei porque fui citado. Por outro lado, já aconteceu também de, poucos dias após publicar um texto, eu testemunhar minhas ideias parafraseadas por outro conteudista que costuma acompanhar meus artigos.
Quando não temos certeza se houve ou não alguma influência, a desconfiança evolui para uma forte suspeita, que gera afastamento e pode abalar toda a admiração.
Tudo bem que a visão como produtor de conteúdos tem uma bela dose de vaidade, não vou mentir. Mas, pelo olhar de um leitor, a perspectiva e a repercussão podem ser ainda piores.
Pela perspectiva do leitor (interlocutor)
“O meio online contribuiu para o nosso acesso à informação, mas também nos dá a falsa impressão do anonimato e da impunidade: ‘Ah, se eu copiar e colar aqui, tudo bem! Ninguém vai checar’.”
— Juliana Saldanha, Copiaram minha ideia, e agora?
Há dois meses, enquanto navegava pelo LinkedIn, encontrei um artigo escrito pelo Marc Tawil com o seguinte título:
“Popularidade é quando gostam de você. Influência é quando param para te ouvir.”
Uma frase como essa não passa despercebida e, no instante em que bati o olho, notei que ela era também familiar, pois tinha a clara lembrança de vê-la num texto da Juliana Saldanha.
Em situações assim, a desconfiança surge tão rapidamente que a maneira mais eficiente de descrevê-la é apelar para o mineirês, acompanhado de um franzir de testa e uma leve coçada de cabeça: uai…
Com o clique, meu objetivo inicial era encontrar a referência, e nem precisei do ctrl + f. Ela estava bem evidente e ainda esclarecia a inspiração não apenas para o artigo, mas para o título.
Quando a desconfiança inicial não se sustenta, ela apenas fortalece a admiração pelo autor. No caso, o Marc, que pegou emprestada a citação da Juliana, reforçou seu discurso e fez questão de dar todos os devidos créditos.
Fonte: Carolina Morgado
Sem essa referência, fica a certeza do plágio e o incentivo para o leitor fazer o que sempre fazemos ao encontrar algo fora do padrão, positivamente ou não: compartilhar.
Fica ainda o empobrecimento do conteúdo. Afinal, com as referências, reconhecemos o trabalho de outras pessoas que vieram antes e, com o apoio delas, compomos um texto muito mais forte.
De bônus, ao evidenciar nossas inspirações, podemos reforçar nomes que o leitor já é familiar, ou melhor ainda, apresentar-lhe novas fontes de informações.
Por fim, a diferença entre o desejo de transmitir uma mensagem de valor para a audiência e o desejo de inflar o ego do autor pode ser sutil. Tão sutil quanto uma referência faltando.
Dou um passo de cada vez confiante, porque eu sei que tudo o que somos agora é tudo o que já existiu.
Que Wat Tyler, Woody Guthrie, Dostoyevsky e Davy Jones dissolveram-se todos no éter e penetraram nos meus ossos.
E todas as células, em todas as linhas, nas costas das minhas mãos, uma vez foram esculpidos nos detalhes de dois pés na areia.
Então permanecemos, somos lembrados.
— Frank Turner