Produzir mais em menos tempo é um desejo de qualquer pessoa em sã consciência.
Isso significa maior eficiência no trabalho, lucro e, claro, disponibilidade de tempo. Assim você pode desfrutar do tempo livre como bem entender.
Pode utilizá-lo como ócio. Ou pode aproveitá-lo de outra maneira: trabalhando mais, produzindo conteúdo ou mesmo consumindo.
Acontece que o próprio termo “ócio” já tem uma conotação pejorativa, como se você estivesse desperdiçando o seu tempo em vez de investi-lo em algo útil. Então, cada minuto livre conquistado é imediatamente preenchido com outra atividade produtiva.
E para falarmos sobre os efeitos dessa rotina na criatividade, primeiro precisamos abrir um pequeno parêntese para uma definição mais clara.
O que é criatividade?
Capacidade de criar e produzir coisas novas para solucionar problemas, certo?
Também, mas prefiro algo mais específico. Então, vamos dizer que criatividade está relacionada à nossa habilidade de relacionar ideias, temas e assuntos antes não relacionados para criarmos algo diferente.
Para ser criativo, não é necessário ir tão longe a ponto de reinventar a roda. Basta encontrar uma nova maneira de fazê-la girar, ou uma perspectiva diferente dela girando.
Agora, o que acontece com essa habilidade em uma rotina enlouquecedora guiada pela obsessão pela produtividade?
A inspiração de curto prazo
Em um primeiro momento, o seu tempo mais preenchido te coloca em contato direto com mais conteúdos e te faz produzir mais.
A sensação inicial é de que você está mais criativo. Você passa a relacionar os conhecimentos recém-adquiridos com outros conceitos que já conhecia, propõe soluções para diversos problemas e vê seu rendimento crescendo consideravelmente.
Qual conclusão tiramos disso? Deu certo, vou ser mais produtivo, e o processo se repete: cada minuto livre conquistado é re-investido de forma útil e a inspiração se mantém por algum tempo.
A extinção do tédio e o bloqueio criativo
Após essa primeira etapa, chega um momento em que os conhecimentos recém-adquiridos não parecem mais tão novos. Você deixa de relacioná-los com outros conceitos e sua aplicação perde o aspecto inovador, tornando-se previsível, mecânica e repetitiva.
Três características que jamais seriam utilizadas para descrever a criatividade.
E qual a solução? Oras, consumir mais conteúdo e seguir com a produtividade — foi o que funcionou antes.
Mas não dessa vez.
Isso porque nossa obsessão por preencher cada minuto com uma atividade produtiva vai comprometendo nosso espaço para pensar. Não nos permitimos raciocinar a ponto de sermos criativos, apenas trabalhamos com o primeiro pensamento que vem à mente, como se estivéssemos numa linha de produção.
E quando a pressão pela inspiração é grande, fazer algo com o único objetivo de encontrá-la não costuma funcionar.
Neste momento, os melhores resultados que costumamos ter são meras pesquisas de tópicos que possam ser reproduzidos. Não há inovação, nem construção de relações entre novos e antigos conhecimentos.
Podemos até seguir produzindo, mas a criatividade não está mais presente.
É como se estivéssemos tão imersos na rotina e na necessidade de sermos produtivos que enxergamos apenas o micro. Enquanto a criatividade exige uma visão panorâmica.
Por isso, após um feriado ou período de férias, costumamos voltar mais inspirados e com novas ideias. Pelo mesmo motivo, todo conteúdo sobre bloqueio criativo recomenda pausas.
E não é apenas achismo. Existe uma explicação científica por trás:
“Isso se chama neuroplasticidade. O nosso cérebro tem a capacidade de construir e gerar novos caminhos e conexões neurais sempre que estimulado, mas para potencializar isso, devemos nos permitir relaxar (Nathalia Montenegro).”
Como conciliar a produtividade e a criatividade?
Desde que a criatividade se tornou um trabalho, com o surgimento até mesmo do cargo de criativo, estamos tentando engarrafá-la. Como se houvesse um método ou manual infalível para que ela surja magicamente no instante em que nos sentamos diante de um computador.
O que existe e funciona são processos e hábitos. Da mesma forma que a obsessão pela produtividade acaba falhando, apostar no ócio também não é garantia. É preciso balanceá-los e ter disciplina.
Você nem sempre vai fazer o seu melhor trabalho de todos, ou escrever o seu melhor texto. Algumas vezes, surge uma ideia incrível do nada. Outras, nem tanto.
Você acaba escrevendo sobre produtividade, criatividade, bloqueio criativo e está tudo bem. Fica para uma próxima, só não pode deixar de escrever.