Na última caixa de perguntas que abri no meu perfil no Instagram, apareceu a seguinte pergunta:
Top 5 livros que não sejam de escrita?
Então, já emendei uma enquete para entender se o pessoal preferia ficção ou não ficção.
O resultado? Foi tão acirrado que estou considerando publicar as duas listas, mas ficção venceu com 55% dos votos.
Até poderia ter respondido por lá mesmo, com uma pequena lista nomeando cada um dos cinco. Só que não teria a mesma graça, além de ser um desperdício de um grande assunto se eu simplesmente jogasse uma lista de tópicos por lá.
Então, decidi trazer uma resposta mais completa para cá. Até porque “livros de ficção” é um tema fantástico e que não aparece tanto quanto deveria na timeline do LinkedIn.
Claro que nomear os cinco melhores envolve uma bela dose de subjetividade. Posso apenas falar de livros que já li e selecionei os que mais me marcaram no momento em que li cada um.
Se você acredita que algum livro merecia entrar para essa lista, tem uma boa chance de eu ainda não tê-lo lido. Então, fique à vontade para deixar suas indicações nos comentários.
Clube da Luta, por Chuck Palahniuk
Se você já leu outros artigos meus por aqui, tem uma bela chance de você já ter se deparado com alguma citação ou menção ao Chuck — incluindo um texto inteiro dedicado ao livro sobre escrita que ele publicou em janeiro de 2020. Aliás, que livro, viu?
E se for para listar meus 5 livros preferidos de escrita, não tem como deixar o “Clube da Luta” de fora.
Afinal, foi meu primeiro contato com o trabalho do autor e, desde que o li pela primeira vez — lá em 2012 —, já são quase 9 anos que acompanho de perto tudo o que ele publica sem me preocupar em ler a sinopse.
Acredito que a trama do Clube da Luta não é mais segredo para muita gente, por conta do filme incrível dirigido pelo David Fincher inspirado na obra.
Se você ainda não conhece, é sobre um homem de classe média que sofre de insônia, tem alguns problemas relacionados à sua saúde mental e vive em função do trabalho. Para se sentir realizado, ele investe seu tempo livre e boa parte do seu dinheiro em roupas caras, móveis e decoração para seu apartamento.
Logo na introdução, seu apartamento explode e todos os seus bens materiais são perdidos na explosão. A partir disso, a narrativa se desenvolve e o Chuck Palahniuk constrói várias reflexões e críticas brilhantes sobre o consumismo e a forma como nos acostumamos a viver nossas vidas.
“Há uma categoria de homens e mulheres que querem dar a vida por algo. A propaganda faz essas pessoas irem atrás de carros e roupas de que elas não precisam. Gerações têm trabalhado em empregos que odeiam para poder comprar coisas de que realmente não precisam. Não temos uma grande guerra em nossa geração ou uma grande depressão, mas na verdade temos, sim, é uma grande guerra de espírito. Temos uma grande revolução contra a cultura. A grande depressão é a nossa vida.”
— Chuck Palahniuk, “Clube da Luta”
Ah! E se você já assistiu ao filme, mas ainda não leu o livro, vou só dizer que o final é diferente, viu?
Um Estranho no Ninho, por Ken Kesey
Lançado em 1962, “Um Estranho no Ninho” é um grande clássico da contracultura, prestando uma bela contribuição para a Geração Beat, batizada por Jack Kerouac, e influenciando o movimento hippie que chegava com força nos anos 60. Além de influenciar outras obras da contracultura, como o próprio “Clube da Luta”.
A história do livro começa com R. P. McMurphy alegando insanidade para escapar da prisão. Chegando no hospício, ele passa a influenciar a rotina dos internos e desafiar a autoridade da enfermeira Ratched — essa mesma Ratched que ganhou uma série na Netflix.
Boa parte da inspiração para a trama do livro veio da experiência do próprio autor, que foi voluntário no MKUltra. Um projeto clandestino da CIA, que tinha o objetivo de testar se era possível forçar confissões dos cobaias através do consumo de drogas — especialmente LSD.
A contracapa do livro diz que Ken Kesey traz “uma parábola envolvente entre o bem e o mal”. Mas, conhecendo o contexto de lançamento do livro, é possível ir mais longe e enxergar uma grande alegoria de uma geração que tinha seus próprios princípios e era reprimida pelas decisões políticas.
Dessa forma, a história vai muito além das paredes do hospício onde ela se passa e se torna um clássico atemporal.
“Da última vez em que o vi, ele estava cego de beber no meio dos cedros, e toda vez que eu o via pôr a garrafa na boca, ele não bebia da garrafa, a garrafa é que bebia dele.”
— Ken Kesey, “Um Estranho no Ninho”
O Grande Gatsby, por F. Scott Fitzgerald
Se “Um Estranho no Ninho” traz uma bela alegoria retratando a década de 60 nos EUA, agora voltamos aos anos 20.
E aqui, preciso confessar que, na primeira vez em que abri “O Grande Gatsby” para ler, não sabia o contexto da obra e não gostei. Anos depois, descobri que o Hunter S. Thompson — um dos meus escritores preferidos — havia reescrito “O Grande Gatsby” na íntegra, palavra por palavra, simplesmente para ter a sensação de como seria escrever um livro como esse.
Então, foi impossível não dar uma segunda chance.
Depois de entender o contexto, então, o livro me ganhou de vez.
Desde os tempos de escola, sempre gostei demais de estudar sobre as grandes guerras e batalhas. E os anos 20 marcaram o momento logo após a 1ª Guerra Mundial, em que a Europa se reconstruía e os EUA despontavam como grande potência.
Como ficaram conhecidos oficialmente, foram os Loucos Anos Vinte, ou a Era do Jazz. Um período que F. Scott Fitzgerald conseguiu captar com perfeição em O Grande Gatsby, lançado em 1925, enquanto transmite algumas contradições do American way of Life e do mito do self-made man (o homem que sai do zero e se constrói por si mesmo).
“Sempre que tiver vontade de criticar alguém, lembre-se de que nem todo mundo teve as oportunidades que você teve.”
— F. Scott Fitzgerald, “O Grande Gatsby”
Monstros Invisíveis, por Chuck Palahniuk
Depois de dois livros que trazem fortes elementos históricos em suas tramas, “Monstros Invisíveis” não traz um contexto tão específico assim.
E sim, outro livro do Chuck Palahniuk na lista. Te falei que ele é meu autor preferido e não é à toa.
O estilo narrativo de “Monstros Invisíveis” traz várias semelhanças com o de “Clube da Luta”. Até por isso, costuma ser o livro que indico para quem quer conhecer outras histórias do autor além da mais famosa.
A protagonista, Shannon, sofre um suspeito acidente de carro que destrói seu rosto — deixando-a sem a mandíbula, incapacitada de falar e de seguir trabalhando como modelo. Porém, como ela é a narradora do livro, podemos acompanhá-lo repetindo a frase “pássaros comeram o meu rosto” quase como um mantra.
Em seu processo de recuperação, Shannon conhece Brandy Alexander, apresentada como Rainha Suprema da Beleza, que convence a protagonista a cruzarem os EUA juntas buscando vingança contra as pessoas que supostamente forjaram sua desgraça.
Caso queira ler, vale tomar muito cuidado com spoilers, pois “Monstros Invisíveis” é um dos livros com maisquebras de expectativa que me lembro de ter lido. E para você ter uma ideia, as próprias orelhas do livro trazem uma sinopse com spoiler.
Se o “Clube da Luta” critica o consumismo e a forma como nos acostumamos a viver nossas vidas. Aqui, o Chuck Palahniuk volta a trazer críticas à nossa sociedade, mas mirando principalmente os padrões de beleza a que somos impostos.
“Agora você vai me contar a sua história (…) Escreva tudo. Conte a história um monte de vezes. Conte a sua história durante toda a noite. Quando você compreender que o que está me contando é apenas uma história… não está mais acontecendo… quando você perceber que a história que está me contando não passa de palavrório… quando puder simplesmente amassar tudo e jogar seu passado na lata de lixo, então poderemos descobrir o que você vai ser.”
— Chuck Palahniuk, “Monstros Invisíveis”
A Revolta de Atlas, por Ayn Rand
Não me lembro ao certo o nome técnico da folha, mas me lembro que havia uma página no documento oficial do TCC que me permitia escolher qualquer frase e ostentá-la ali.
Essa foi a frase que escolhi:
“Que riqueza é maior que ser o dono da própria vida e empenhá-la no crescimento? Toda coisa viva precisa crescer. Não pode parar. Ou cresce ou morre.”
— Ayn Rand, “A Revolta de Atlas”
Li “A Revolta de Atlas” numa fase em que estava refletindo bastante se Engenharia Elétrica era o rumo certo para mim e o livro de Ayn Rand foi um divisor de águas.
Ele me ajudou reorganizar as ideias em minha cabeça, retomar os trilhos e foi responsável por moldar meu perfil profissional e, até mesmo, meu caráter.
Atlas mitologicamente é aquele que sustenta o mundo. E quem carrega o mundo — para Rand —, nos dias atuais e na obra, são os grandes inovadores. Aqueles que fazem a diferença em todos os campos, desde a indústria e a medicina até a literatura e a música.
Partindo dessa analogia, a história se passa numa América fictícia, futura e em decadência. Com forças políticas no poder que se dedicam em impor empecilhos aos poucos homens e mulheres que ainda tentam lutar para salvar o país do colapso.
Um dos grandes inovadores acaba personificando Atlas um pouco mais que os outros. E, quando ele decide que iria “parar o motor do mundo”, surge a greve idealizada por Rand e protagonizada pelos maiores artistas, pensadores e industrialistas que o mundo conhecia.
O livro se tornou quase uma bíblia para os empreendedores e, na maioria das vezes, fala-se muito mais do aspecto socioeconômico da obra.
Mas foi o lado filosófico e o estilo de escrita de Rand que me conquistaram. Em “A Revolta de Atlas”, ela dá verdadeiras aulas de filosofia e, apesar de ter lido o livro em 2013, diversos trechos continuam frescos na minha cabeça como se tivesse acabado de finalizar a leitura.
“Observem a persistência, nas mitologias, da lenda de um paraíso que os homens possuíram certa vez, a cidade de Atlântida ou o Jardim do Éden ou algum reino da perfeição, sempre no passado. A raiz dessa lenda se encontra não no passado da espécie, mas no de cada homem. Vocês ainda guardam uma vaga ideia — não nítida como uma lembrança e sim difusa, como a dor de uma saudade sem esperanças — de que em algum momento da sua primeira infância, antes de aprenderem a se submeter, a absorver o terror do irracional e questionar o valor da sua mente, conheceram um estado radiante de existência, a independência de uma consciência racional encarando um universo aberto. Esse é o paraíso que vocês perderam e que buscam — e que pode ser seu quando quiserem.”
— Ayn Rand, “A Revolta de Atlas”
E então, o que achou da minha lista? Já conhecia todos os cinco?
Agora, resgatando a pergunta do título, me conta aí nos comentários: qual seria seu top 5 de ficção?
PS.: será que eu publico a lista com os 5 melhores de não ficção também? 🤔