Há exatos 7 meses, comecei a trabalhar com Marketing, sem nenhuma experiência na área além de alguns cursos online e muita vontade de aprender.
E ontem, prestei uma breve consultoria para uma profissional que admiro muito para falar sobre Marketing Digital. Foram duas consultorias, na verdade. Na primeira, eu que fiz as perguntas para entender mais sobre a área de trabalho dela e, ao final, ela pediu para marcar uma call comigo.
Não te conto isso para me vangloriar, mas porque fiquei assustado. Estudei Engenharia por 7 anos e, hoje, falo sobre Marketing com muito mais propriedade do que jamais falei sobre meu curso de formação.
Assim que terminei a call, imediatamente me lembrei do início da minha trajetória. Tão recente em questão de tempo que talvez não mereça uma #tbt, mas tão distante em termos de aprendizados que me fez querer revisitar meus primeiros textos.
Meu primeiro artigo no LinkedIn é contando como mudei da Engenharia para o Marketing em 23 horas. Nele, não ouso mexer.
Porque ele capta perfeitamente como estava me sentindo nesse período. E, por mais que meu estilo de escrever da época me incomode, acho que uma mudança poderia comprometer toda a autenticidade do relato.
Meu problema nesse exato instante é com o segundo artigo – Mudar de carreira: o que fazer quando você não sabe o que fazer. Familiar o título, não é?
Numa outra oportunidade, mencionei que devemos sentir vergonha do que fizemos um ano atrás e resolvi me antecipar um pouco. Não que a versão original seja ruim, mas, após ter relido, notei que toquei no ponto que queria abordar, só que muito sutilmente.
E é isso que pretendo corrigir agora, pois, em vez de falar tanto sobre startups e marketing, deveria ter falado o seguinte:
Você não é o seu diploma
Nem o seu cargo.
Nem a empresa onde você trabalha.
E, por mais que muita gente ostente um MBA como sobrenome no LinkedIn, nem o seu título.
Tudo isso diz respeito ao seu passado e à experiência que você adquiriu, mas conhece essa célebre frase?
“Conta-me o teu passado e saberei o teu futuro. (Confúcio)”
Confúcio que me perdoe, mas não acho que é tão simples assim. Acredito que somos o somatório das maneiras como encaramos e reagimos às nossas experiências, e não um somatório das experiências em si. Percebe a diferença?
Mas não precisamos aprofundar muito em filosofia para falarmos disso. Afinal, seu curso define simplesmente sua formação acadêmica, que, além de um diploma, rende experiência e algumas linhas no seu currículo. O restante depende de você.
Como uma imagem diz mais que mil palavras, conto com o apoio do meu colega engenheiro eletricista para me ajudar na argumentação:
Portanto, não se rotule pela sua formação acadêmica, ou por nenhum outro evento. Como o Neil Strauss define muito bem:
” Rotular-se não é o caminho para o sucesso. Faça algo incrível e deixe que as outras pessoas te rotulem. Então, continue crescendo para que tenham que te rotular novamente. Até que, eventualmente, seu rótulo seja simplesmente que você é você. (Neil Strauss)”
Muitas pessoas se vêem insatisfeitas com seus cenários atuais, mas ainda assim não buscam novos rumos. Seja por medo, por insegurança ou por comodidade. Mas quer saber?
Uma vida segura pode ser uma cilada
O que seria uma vida segura? De uma forma bem genérica, podemos defini-la como uma vida sem preocupações, concorda?
Então, vamos imaginar uma pessoa assim, cujo único objetivo é não ter preocupações pessoais ou financeiras. Dessa forma, ela acaba deixando de lado todo tipo de ambição e iniciativa, e se acomoda.
Nesse caso, concordo com Confúcio, e seu futuro acaba se tornando uma mera extensão do presente. Mas porque ela própria decide abrir mão de reagir, ou se me permite, ela abre mão do protagonismo.
E você consegue imaginar um filme em que o protagonista é um coadjuvante? Difícil resultar em algo além de uma péssima história, ou um cenário onde um terceiro personagem acabe roubando a cena.
“Quem é o homem mais feliz? Aquele que enfrenta a tempestade da vida e sobrevive? Ou aquele que permanece seguramente à beira da margem e apenas existe? (Hunter S. Thompson)”
E como garantir que você não fique apenas à beira da margem?
Jamais deixe de ser um aprendiz
“ É impossível aprender aquilo que você considera já saber – disse Epíteto. Você não pode aprender se acha que já sabe. Não encontrará respostas se for orgulhoso ou presunçoso demais para fazer perguntas. Não poderá melhorar se estiver convencido que já é o melhor. (Ryan Holiday)”
Então, estude e aprenda sempre, e não apenas sobre sua área de atuação. Conhecer mais sobre outros assuntos ajuda a expandir a mente e ainda te torna uma pessoa mais interessante.
Tenho certeza que você conhece alguém que só conversa sobre trabalho e outra pessoa capaz de falar sobre qualquer tema. Com qual você prefere conversar?
Além disso, você nunca sabe quando vai abrir um livro ou começar um curso que vai mudar sua vida. No meu caso, foi um curso online que comecei a fazer despretensiosamente sobre marketing de conteúdo.
Portanto, nunca feche uma porta por medo ou preconceito do desconhecido.
E assim, chegamos à pergunta mais difícil que já ousei responder:
Como saber se estou na direção certa?
A grande maioria dos especialistas em carreira nos orienta a traçar um grande objetivo e fazer o que for possível para alcançá-lo. Mas e se você não tiver um grande objetivo?
Em algum momento na vida, todos nós precisamos escolher entre nadar rumo a um objetivo ou simplesmente ficar à deriva e ver para onde seremos levados. Conscientemente ou não, todos nós tomamos essa decisão.
E se você não tem um objetivo tangível muito bem traçado, pode ser melhor ficar à deriva e ver até onde o rio te leva. Se não for a direção certa, você ainda poderá apreciar uma jornada interessante e terá tempo de perceber e corrigir seu trajeto.
Muito melhor que nadar cegamente rumo a um precipício, não acha?
Trace um objetivo, mesmo que ele represente ficar à deriva. E quando o fizer, tenha certeza de adequar o objetivo a você. Não o contrário.
Eu explico: é muito comum focarmos puramente no objetivo. Assim, definimos uma série de ações que devemos praticar para alcançá-lo. Mas podemos mudar nossa mentalidade nesse processo e passar a almejar uma nova meta.
E nesse momento, precisamos escolher entre acomodar ou começar um novo percurso. Por isso, nadar contra a correnteza pode ser bem perigoso se não for realmente o que você quer. É provável que você chegue à margem e se acomode por lá.
Mas não confunda ficar à deriva com procrastinar, ou acomodar-se.
Compre o ingresso, embarque na jornada…
Seja lá o que decidir fazer, faça bem feito.
Falar é muito fácil, eu sei. Este artigo é um exemplo disso. Pois eu estava decidido a não publicar nada esta semana e, assim, quebraria um compromisso que firmei comigo mesmo, desde o começo de Junho, de publicar semanalmente por aqui.
Já foram 10 artigos desde então (11 com este).
Quando isso se torna parte da rotina, chega um momento em que você passa a fazer tudo no modo automático e, se não tomar cuidado, passa a querer escrever sobre assuntos que não significam tanto para você.
Foi esse o rumo que quase tomei e, sinceramente, prefiro não escrever do que abordar um tema com o qual não me identifico. Mesmo que ele tenha uma audiência certa.
…e resgate o seu propósito
Periodicamente, todos precisamos resgatar o propósito de por que começamos algo e, para isso, contar com o apoio de outras pessoas é fundamental. Afinal, nenhum trabalho é feito sozinho.
Três momentos foram cruciais para que este artigo nascesse:
- A call que mencionei na introdução;
- Uma conversa que tive com o André Mousinho, que inclusive brincou que, ao não escrever essa semana, eu iria te surpreender. Mas ao invés disso, preferi surpreendê-lo, escrevendo;
- A leitura do artigo “A idade é só um número estúpido”, do Matheus de Souza, que toca em vários pontos que eu precisava relembrar e nem sabia. Além da sua escrita conversativa e das várias referências à cultura pop, que me inspiraram a começar a escrever por aqui.
Depois disso, recorri ao meu caderno onde anoto vários trechos de livros e relembrei tudo o que já li do Hunter S. Thompson (a grande maioria entre 2013 e 2015).
Faço questão de te contar isso porque, de tempos em tempos, precisamos de um chacoalhão para (re)tomarmos o rumo correto. E, muitas vezes, nem percebemos que precisávamos, até que aconteça.
Então, converse com pessoas que te inspiram, leia conteúdos que te encorajam, relembre trechos de seu autor favorito, de sua obra favorita, reveja seu filme predileto e escute músicas que te renovam. Dessa forma, você resgata seu propósito, se recorda da sua motivação inicial e volta com força total.
Isso vale para escrever. Vale para buscar novos rumos. Vale para mudar de carreira. E vale para a vida.
Agora, estou satisfeito com este artigo. Pelo menos, por enquanto. Mas assim que achar necessário, vou revisitá-lo novamente. Não como uma sequência, mas como um remake mesmo. E pode ter certeza que o Mr. Bean vai continuar no elenco.
Espero que este texto possa te ajudar, assim como o simples ato de escrevê-lo já foi extremamente útil e terapêutico para mim. Antes de fechar as cortinas:
“To be nobody but yourself, in a world which is doing its best — night and day — to make you somebody else, means to fight the hardest battle which any human being can fight; and never stop fighting. (E. E. Cummings)”
Este artigo foi fortemente inspirado na bibliografia do autor Hunter S. Thompson, principalmente nas obras The Proud Highway e Kingdom of Fear.
Caso queira ler algo dele, recomendo essa carta, em que ele discute sobre o significado da vida. Ela faz parte do Proud Highway e foi minha principal inspiração para o tópico “Como saber se estou na direção certa?”.