A arte de contar boas histórias é uma técnica fantástica e, quando bem-feita, garante que seu texto seja único. Por mais que existam milhares de conteúdos sobre o mesmo tema, o seu garante que terá um diferencial por mostrar uma perspectiva exclusiva sobre o assunto: a sua.
Por meio do storytelling, você é capaz de se aproximar do seu leitor, gerar identificação e passar adiante sua mensagem com uma facilidade muito maior. Afinal, é sempre mais fácil lembrarmos de uma mensagem quando ela é ancorada em uma história.
E é exatamente por isso que devemos sempre tomar cuidado com essas narrativas.
Somos facilmente seduzidos por histórias
O storytelling é capaz de nos impressionar e cativar num piscar de olhos. Assim, acabamos nos identificando com o protagonista, nos imaginamos em seu lugar, ou até mesmo sonhamos em estar na sua posição.
Tenho certeza que você já encontrou um conteúdo que te inspirou e te deixou motivado a ponto de partir para ação. Pode ser um filme, uma música, ou um artigo.
O Murillo Leal, por exemplo, é um autor que coleciona feedbacks de vidas transformadas por histórias contadas. Um deles, faço questão de reproduzir a seguir, por ser de uma outra pessoa que também me inspira bastante e talvez você conheça:
“Se hoje tenho reconhecimento por causa dos conteúdos que escrevo no LinkedIn, o grande ‘culpado’ é o Murillo. Seu texto ‘Ter emprego para pagar contas não faz sentido’ literalmente mudou a minha vida. ( Matheus de Souza)”
Eles dois são excelentes exemplos, por serem cases de sucesso do LinkedIn: ambos tiveram suas vidas transformadas pelos textos escritos na plataforma.
E se todos os produtores de conteúdo tomassem os dois como modelos a seguir, dificilmente precisaríamos desconfiar de histórias. Mas então, chegamos ao problema:
A receita de bolo do storytelling
Quando algo começa a dar muito resultado, é natural que algumas pessoas queiram replicá-lo e passá-lo adiante, ensinando-o para outras pessoas, por meio de fórmulas prontas.
E isso acabou acontecendo com a arte de contar histórias no feed do LinkedIn, onde alguns episódios de vida são adaptados e encaixados num roteirinho bem enlatado, que é seguido por uma lição de moral para finalizar.
Só que uma história contada de maneira tão engessada já nasce com alguns problemas. É como se a receita te ensinasse a fazer apenas uma cobertura maravilhosamente atrativa, mas jamais conhecemos o recheio.
Pode ser tão bom quanto, pode estar estragado ou pode ser falso, com a linda cobertura sendo um mero enfeite.
Assim, essas histórias acabam usando tantos filtros que, ao final, temos narrativas extremamente simples, romantizadas e similares.
Ironicamente, a técnica que deveria deixar os conteúdos mais autênticos acabou sendo banalizada a ponto de gerar vários conteúdos parecidos. E o que começou com uma receita de bolo acabou se tornando uma legião de cupcakes — todos com a mesma cobertura, que agora se tornou batida e enjoativa.
É como o programa Zorra Total: os cenários mudam um pouco e, às vezes, troca-se os personagens. Mas, no fim, as piadas são sempre as mesmas.
Esse contexto me lembrou muito uma música da banda Goldfinger, lançada nos anos 2000 para criticar a falta de autenticidade no cenário musical promovido pela MTV:
“What happened to integrity? I don’t see it on MTV. All I see is choreography, and I’ll never be a dancer. (…) I don’t wanna test, I want to believe the god damn singer wrote the song. When I wanna hear about life, I don’t wanna hear a spokesman.”
Mas afinal, qual o perigo dessas histórias?
A pior parte é que elas acabam funcionando, embora seja apenas por um certo período de tempo. Assim como, eventualmente, as piadas perdem a graça e os cupcakes ultrapassam seu prazo de validade.
Mas antes que você perceba essa fórmula nas publicações, é inevitável que você vai se identificar com alguma dessas histórias e vai acabar engajando com um conteúdo ou outro. E aí vem o verdadeiro perigo:
Lembra que falei na introdução que é muito mais fácil lembrarmos de uma mensagem quando ela é ancorada em uma história?
Na grande maioria dessas publicações, não costuma haver uma mensagem ancorada, mas sim uma estratégia de marketing pessoal focada em visibilidade ou um produto sendo vendido.
E nessas horas, as histórias engajam e encantam. Mas elas também podem iludir.
Como um profissional de marketing de conteúdo, o meu foco é em gerar valor para quem lê meus textos e, a partir disso, ganhar visibilidade. Mas temos muitas pessoas focadas em gerar valor ($) com visibilidade.
Portanto, sempre que consumir um conteúdo, tenha certeza que não é apenas pela cobertura.
Mesmo que ele seja gratuito, o seu tempo é valioso demais e existem várias pessoas dispostas a gerar valor produzindo conteúdos.
E como se sobressair no meio dessa legião de cupcakes?
Se você quer um método que realmente funciona, precisa entender que não existe um atalho, um bot ou um hack que vai te proporcionar a visibilidade que você deseja.
É aquela velha história de escrever com propósito e ser genuíno. Mas para não precisarmos nos aprofundar muito nisso, dá pra resumir na seguinte ideia:
Tenha uma preocupação maior com a mensagem que você deseja transmitir, do que com a visibilidade que ela pode te proporcionar.