Essa pauta me foi sugerida há alguns meses, pela Cláudia Cubas. Na época, não tinha muito a dizer sobre o assunto e, caso decidisse transformar em um artigo, eu não fugiria do óbvio.
Depois de ter estudado bastante sobre Storytelling, passei a enxergar a construção do marketing pessoal de uma forma diferente. E não falo simplesmente desse storytelling de contar historinhas não.
Aliás, essa é a primeira coisa que queria deixar claro:
Storytelling não é apenas contar histórias
Essa é a tradução do termo, às vezes acompanhada da palavra “arte” para dar uma enfeitada a mais.
Porém, mesmo funcionando como um sinônimo para evitar repetir a mesma palavra e tornar o texto cansativo, a arte de contar histórias não é a melhor definição para storytelling.
Eu aprendi a defini-lo como a habilidade de contar e desenvolver histórias capazes de cativar e engajar a sua audiência.
Em alguns casos, não há uma narrativa clara e o conteúdo pode ser a própria história em desenvolvimento. Se quiser um exemplo, recomendo que dê uma lida nesse artigo do André Mousinho:
Neste texto, ele fala constantemente sobre como o conteúdo foi construído para que você leia e tenha a percepção que está consumindo algo incrível, embora ele esteja falando sobre nada.
Por meio dessa sátira, todos os elementos necessários para um bom storytelling são construídos e, no caso, o personagem que percorre a jornada é você.
No marketing pessoal, isso acontece de uma forma similar:
Construindo a sua marca e a sua história
Ao expressar a sua opinião, fazer uma publicação no feed ou publicar um artigo, você traça uma imagem para a sua audiência que, aos poucos, vai se tornando a sua marca — e também a sua história.
Só que nessa narrativa você não tem tanto controle, pois ela é dinâmica e envolve um participante de extrema importância: a sua audiência.
Embora você tenha total poder e escolha sobre o que dizer, não são as suas palavras que contarão sua história, mas a percepção do seu público. É como se você pudesse apresentar possíveis opções para a trama, porém, não tem controle algum sobre a edição e a direção da narrativa.
Por isso, vale ressaltar:
O bom storytelling nunca deve ser sobre você, mas sobre seu leitor e como ele se identifica. *
E é exatamente por esse motivo que a autopromoção não funciona.
Portanto, abaixe o megafone
Aqui, vale fazer um disclaimer: quando falo em autopromoção me refiro ao tipo de estratégia que se assemelha a utilizar um megafone para anunciar a todos na rua o quanto você é bom e por que devem te contratar — no melhor estilo “carro da pamonha”.
Ainda existem casos que mascaram autopromoções como essas por meio de receitas de storytelling, onde alguns episódios de vida são adaptados e encaixados num roteirinho bem enlatado, que é seguido por uma lição de moral para finalizar.
Essa situação seria bem representada por um carro de pamonha com um jingle engraçadinho. Pode te cativar no começo e pode até te convencer a comprar, mas uma hora cansa.
E a autocrítica se faz necessária, em primeiro lugar, para entender que isso não funciona e que, a longo prazo, vai apenas desgastar a sua própria imagem.
Pensando na construção do storytelling pela percepção de sua audiência, temos dois problemas ainda mais graves:
1. Entender o incentivo por trás das ações do protagonista
“There are only two types of people: those who use themselves to benefit others, and those who use others to benefit themselves ( Ann Bastianelli)”
Um bom personagem principal sempre é movido por algo que dê razão e justifique a história — esse é um dos principais elementos para garantir o sucesso de um conteúdo com storytelling.
Ao falar apenas de si próprio e fazer muito alarde de suas conquistas, você fornecerá à sua audiência componentes para a construção de um personagem extremamente raso. E que se enquadra perfeitamente no segundo tipo de pessoa descrito pela Ann Bastianelli.
2. O conflito da história
Ou melhor, a inexistência de um conflito.
Ao cantar e celebrar vitórias o tempo inteiro, você contribui para uma trama fraca, irreal e extremamente romantizada. Assim como o filme onde as coisas acontecem muito facilmente e não te convence, sabe?
E não te convence por fugir demais das nuances e inconstâncias da vida, que é recheada de altos e baixos. É como aquele clichê que faz alusão ao eletrocardiograma: não existe linha reta, a não ser na morte.
Agora, chegamos ao ponto-chave de toda a nossa conversa.
É possível sim falar sobre suas conquistas, vitórias e, praticamente, qualquer coisa, desde que você leve o seguinte aspecto em consideração:
Seja o seu maior crítico
Qual o principal foco das suas publicações: gerar valor para o seu leitor, para o seu ego (com autopromoção) ou para o seu bolso?
Eu não vou mentir: meu objetivo aqui no LinkedIn — e também com este artigo — é ganhar visibilidade e autoridade como produtor de conteúdo.
Mas não faço isso me autopromovendo. Foco em produzir e entregar textos que eu gostaria de ler e, assim, gerar valor para você. Seja com algo que aprendi, uma reflexão ou uma nova perspectiva de algo.
E te garanto: se você produzir conteúdos com a intenção de criar valor para as outras pessoas, inevitavelmente elas vão enxergar valor em você.
Sem falar nos feedbacks que você acaba recebendo de pessoas que se identificaram ou se inspiraram com seus textos — que acabam sendo o principal retorno.
Eles são o que realmente me motivam a continuar escrevendo. Mensagens como essa, que chegou enquanto finalizava este artigo:
Isso não dá pra conquistar no grito, ou no megafone.
Por isso, um dos pilares do Inbound Marketing é que o bom conteúdo se promove sozinho.
Ou seja, foque em transmitir mensagens de valor para a sua audiência que você vai acabar incentivando outras pessoas a promoverem suas publicações e, por consequência, você próprio.
Para fechar a história: entregue os melhores elementos possíveis à sua audiência e confie nela para montar o storytelling da sua marca pessoal, que — por fim — acaba se tornando o seu legado. *
Se a narrativa construída for boa, ela será divulgada. E se for muito boa, pode até ser que alguém decida pegar aquele megafone que pedi que você abaixasse e a promova nele.
* Esses trechos foram fortemente inspirados pela palestra do Joni Galvão no RD Summit 2018.