Dimitri Vieira

Por que decidi trocar o nome da “Black Friday”?

Talvez você tenha acompanhado a discussão que levantei, tanto no Instagram quanto no LinkedIn, sobre a possibilidade do termo “Black Friday” perpetuar o racismo de alguma forma.

Possibilidade em negrito, porque existem diversas possíveis explicações para o nascimento dessa expressão, tornando sua origem inconclusiva.

Antes, quero frisar que não estou levantando esse tema para “lacrar”, dizendo que “É isso e pronto! Qualquer pessoa que pensar diferente está errada.”

Nem para lecionar sobre racismo. Sei bem que não é meu lugar de fala, porque nunca senti isso na pele.

Estou aqui para levantar um diálogo sobre a origem do termo, porque isso eu pesquisei bastante nos últimos dias e conversei muito, com várias pessoas, sobre o assunto.

Um ponto bem importante para dizer logo de cara é que a conotação racista não está no uso dos termos “black”, “preto” ou “negro” isolados, mas no contexto de origem da expressão.

Por isso, estou batendo tanto nessa tecla.

E como é uma expressão que importamos dos EUA, precisamos discutir sua origem por lá.

1. Em 1951, há um registro dela sendo usada de forma pejorativa, para se referir ao grande volume de pessoas matando o trabalho após o dia de Ação de Graças.

2. Nove anos depois, na Filadélfia, a mesma expressão começou a ser utilizada pela polícia para se referir ao caos que acontecia, pelo excesso de pessoas que fazia compras para o Natal após o dia de Ação de Graças.

Os lojistas, inclusive, não gostaram da expressão e tentaram emplacar “Big Friday”, que acabou não pegando. E, em 1990, “Black Friday” se tornou um evento popular em todo os EUA.

3. Um registro mais antigo da mesma expressão aconteceu em 1869, para se referir à uma grave crise financeira nos EUA, por conta da queda drástica do valor do ouro.

4. Existe, também, uma possível explicação de ser uma alusão aos lojistas fazerem essa promoção para sair do vermelho no crédito e ir para o azul. Nos EUA, utiliza-se “Black” para essa expressão.

5. Por último, existem debates que cogitam a possibilidade do termo estar relacionado à escravidão. Porém, não encontrei nenhuma referência que confirmasse isso e acredito que, caso isso fosse confirmado, o termo também seria abolido.

Apenas trouxe esse último ponto, porque foi um argumento que me apresentaram em algumas das conversas que tive.

Sem uma fonte confirmando, vamos nos ater aos 4 primeiros.

Quatro possíveis origens.

Três trazem conotações pejorativas e uma, apenas uma, traz uma relação positiva à cor preta.

Depois de levantar essa discussão, passei a reparar na quantidade de marcas e influenciadores que já estão se movimentando para trocar o nome de suas próprias “Black Fridays”:

  • Avon: Best Friday
  • Natura: Natura Friday
  • M.A.C Cosméticos: Beauty Friday
  • Imaginarium: Color Friday
  • Adidas: Best Fridays
  • Ipiranga: Yellow Friday
  • Americanas: Red Friday

Fonte: Exame

Se você reparar, outro movimento que também está acontecendo é de promoções que chamam mais atenção para o desconto e o período em que ele acontece. Não necessariamente dando um nome para ele.

Você pode dizer que essa discussão é um grãozinho de areia no combate ao racismo. Talvez, seja menos que isso.

Existem, sim, incontáveis expressões e situações que merecem maior atenção e combate que a “Black Friday”.

Mas acredito que, se discutirmos o “grãozinho de areia”, estamos trazendo uma abertura para dialogar e combater esses casos também.

— Ah! Mas o termo sempre foi esse e ninguém nunca reclamou. De repente, tudo virou racismo!

Quando algo discutível (para não dizer “errado”) permanece existindo por muito tempo, ela se torna tradição? E essa tradição deve ser imutável? Intocável?

Muitas coisas que mudaram, antes, eram dadas como certas e imutáveis. Você se lembra da banheira do Gugu e dos comercias de cerveja dos anos 90?

Outro exemplo que não vivi são as propagandas de cigarro, que traziam os maiores astros de Hollywood para te convencer que fumar é bonito.

Pois é. Por muito tempo, foram tradição. Hoje, não vão para o ar mais.

Então, deixo uma pergunta para você.

Se 3 das 4 possíveis origens são pejorativas e existem pessoas negras que se sentem ofendidas pela expressão “Black Friday”, por que não trocá-la?

Os nomes precisam ser em inglês?

Dos exemplos que eu trouxe, todos são em inglês, você notou?

Isso é um forte reflexo da nossa americanização? Sim, mas também é por conta do marketing.

É indiscutível a forte marca do termo “Black Friday”. Essas duas palavrinhas sozinhas já te informam:“Desconto grande no final de novembro e, se você está no Brasil, cuidado com as promoções que vendem tudo pela metade do dobro”.

“Black Week” e “Black November” também trazem essa mesma conotação, pela similaridade das expressões.

Então, quando você decide criar sua própria expressão para a “Black Friday” é um desafio gigantesco chegar em um termo com um significado próximo.

E uma saída acaba sendo pegar carona no inglês por conta da similaridade.

Para vermos isso, basta fazer uma comparação dos exemplos que trouxe ali em cima com suas versões traduzidas. Quais parecem mais se referir a um desconto?

  • Best Friday ou Melhor Sexta?
  • Sexta Natura ou Natura Friday?
  • Sexta da Beleza ou Beauty Friday?
  • Color Friday ou Sexta Colorida?
  • Melhores Sextas ou Best Fridays?
  • Sexta Amarela ou Yellow Friday?
  • Red Friday ou Sexta Vermelha?

Talvez seja uma evolução natural para termos nossa versão brasileira, mas, por enquanto, acredito que continuaremos reféns da nossa americanização.

E qual será a sua “Black Friday”, Dimitri?

Eu tentei criar uma versão não apenas brasileira, mas mineira do termo.

Emendando Novembro + Barato, cogitei usar Novembarato.

Inclusive, vou deixar esse nome guardado com carinho e, talvez, passe a usá-lo no futuro.

Por enquanto, vou com a maioria.

Fiz uma enquete no meu perfil do Instagram com quatro opções para o pessoal votar e o resultado foi:

  • Brand Week: 4,84%
  • Blue Week: 4,84%
  • Novembarato: 27,42%
  • ???: 62,90%

Só para fazer um pouco mais de suspense…

Você pode conhecer a opção vencedora no gif abaixo:

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Como você bem pode notar, seria muito, mas MUITO, mais fácil apenas manter o nome “Black Friday” e não me envolver em discussão alguma. Teria me poupado uma bela dor de cabeça na segunda, respondendo ataques no LinkedIn também.

Mas, depois que parei para pensar em tudo isso que resumi para você no texto até aqui, fica difícil manter o nome.

Confesso que ainda não me acostumei a dizer DimiWeek, mas talvez seja questão de tempo e, se precisar, posso mudar de novo sem problemas.

PS.: Talvez, você tenha lido até aqui e esteja pensando “estão problematizando tudo, geração da lacração, geração nutella, nos meus tempos não era assim, mimimi” e espero que não seja o caso.

Mas, se for e você espera que eu respeite sua opinião, espero também que você respeite minha escolha de mudar o nome por um motivo bem simples.

Sou eu quem estou organizando evento, não é? Então, deixa eu escolher o nome que eu preferir. Se “problematizar tudo” te incomoda, não vem problematizar o nome que escolhi também não. 🤷‍♂️

Agora, se quiser debater sobre o assunto de forma saudável, estou sempre à disposição.

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Dimitri Vieira

Sou um escritor e produtor de conteúdo, especializado em Escrita Criativa, Storytelling e LinkedIn para Marcas Pessoais. Minhas maiores paixões sempre foram a música, o cinema e a literatura. Escrevendo textos na internet, consegui unir o melhor desses três universos, e o que era um hobby acabou me transformando em LinkedIn Top Voice e, hoje, se tornou minha profissão.

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