Dimitri Vieira

Principais referências de Batman: entenda a origem do sucesso do filme de Matt Reeves

Um dos principais méritos da nova versão do Batman é trabalhar bem com referências e beber em diversas fontes, não apenas no universo dos quadrinhos. Ao se inspirar em grandes obras anteriores e homenageá-las, Matt Reeves conseguiu criar uma versão inédita de um personagem muito conhecido.
Principais referências de Batman: entenda a origem do sucesso do filme de Matt Reeves

[Atenção! Este texto contém spoilers!]

A nova versão do Batman, que chegou aos cinemas em 2022, superou todas as expectativas que eu tinha para o filme.

E um dos principais pontos positivos foram as referências usadas por Matt Reeves na construção do novo universo do Homem Morcego.

Por isso, em vez de apenas escrever um artigo analisando e desconstruindo a história, decidi primeiro falar apenas sobre as fontes de inspiração do longa-metragem.

Se você me acompanha há mais tempo, talvez se lembre que fiz a mesma coisa com Coringa, em 2019, analisando primeiro as referências e, depois, a construção narrativa do filme.

Repetindo a dose com o Batman, você vai notar que algumas referências são bem explícitas e outras, mais interpretativas.

O catálogo completo de filmes do Batman

Contando filmes focados em sua história e algumas participações, como em Esquadrão Suicida, existem 12 filmes sobre o herói.

Então, não se trata de uma história desconhecida e alguns eventos estão bem desgastados por excesso de repetição.

Por exemplo, quantas vezes você já assistiu à morte dos pais de Bruce Wayne em um filme ou série?

Nessa versão, é notável que houve uma preocupação de recontar o que era conhecido de forma inédita.

Em vez de focar no Bruce Wayne como protagonista e nos apresentar o assassinato como a origem do Batman, a versão de Matt Reeves começa direcionando a atenção para o Homem Morcego — dois anos após ter começado a combater o crime de Gotham.

Mesmo que o incidente seja mencionado no filme, é de forma menos óbvia.

Pela atmosfera sombria do filme e versões mais realistas dos personagens, também é possível acreditar em algumas inspirações na trilogia de Christopher Nolan. 

Nirvana e Kurt Cobain

Se você assistiu ao trailer do filme e conhece Nirvana, provavelmente a trilha sonora te chamou a atenção desde os primeiros segundos.

Something in the way e a voz de Kurt Cobain ditam o tom do trailer — até as composições originais compostas por Michael Giacchino assumirem.

Diferente de Esquadrão Suicida, que entrega uma série de músicas famosas para gerar a sensação de algo épico sendo construído, aqui, a música cumpre um papel na narrativa.

“No início, quando estava escrevendo, comecei a ouvir Nirvana, e havia algo sobre (a música) Something in the Way — que está no primeiro trailer —, que faz parte da voz desse personagem (…) ele é uma espécie de viciado em drogas. Sua droga é seu vício por esse desejo de vingança. Ele é como uma versão Kurt Cobain do Batman”.

Matt Reeves

Vale lembrar que Coringa fez algo bem parecido, ao trabalhar com músicas, principalmente com That’s Life, do Frank Sinatra.

E por ser uma música que fala muito sobre isolamento, Something in the way ajudou a construir uma ambientação perfeita para o Bruce Wayne e para outros personagens — também movidos por vingança.

Noir e Neo-Noir

Bem comuns nas décadas de 40 e 50, os filmes Noir tinham raízes na 2ª Guerra Mundial e refletiam desilusão da época, com uma visão de mundo pessimista. São ambientados em cidades sujas, opressoras e recheadas de problemas sociais.

Os personagens são corruptíveis e isso também se reflete no protagonista, que costuma ser violento, individualista e com uma conduta moral questionável.

Apesar de muitos filmes noir terem um detetive como protagonista, não é uma obrigação nesse estilo.

Outro traço marcante é a presença da Femme Fatale, uma personagem com objetivos dúbios e que oscila entre aliada, interesse amoroso e antagonista no decorrer da trama.

Vários filmes resgataram esse mesmo estilo mais tarde e podem ser classificados como Neo-Noir, como Chinatown, Taxi Driver, Drive, Sin City e Blade Runner 2049.

O Batman, de Matt Reeves, abraça o Neo-Noir como um sub-gênero e traz vários desses elementos na construção da narrativa.

Inclusive, se você se lembra de Taxi Driver, os monólogos introdutórios do Homem Morcego lembram bastante os do protagonista, Travis Bickle.

Nighthawks, de Edward Hopper

Antes de entrar em detalhes, preciso agradecer à Isabela Boscov e aproveitar a deixa para te apresentar ao trabalho dela, caso você ainda não conheça.

Foi graças à análise dela sobre o Batman que fiquei conhecendo esta referência e, facilmente, é uma das mais fascinantes.

O trabalho do pintor Edward Hopper ficou marcado por representações realistas da solidão contemporânea, como acontece em Nighthawks.

Finalizada em 1942, a pintura capta um sentimento parecido com o que inspirou o nascimento dos filmes Noir e, por serem contemporâneos, esse estilo de filme e o trabalho de Hopper se influenciaram.

De um lado, Hopper traz elementos visuais e figurinos bem presentes nesses longa-metragens.

Do outro, inúmeros filmes utilizaram suas pinturas como referências para construção dos cenários e filmagem.

Se você pesquisar, vai encontrar inúmeros exemplos de quadros de Hopper que influenciaram o cinema. Mas vou aproveitar para citar apenas um aqui: Ridley Scott, com Blade Runner.

“Eu mostrava constantemente uma reprodução desta pintura (Nighthawks) para a equipe de produção para ilustrar o visual e o humor que eu procurava.”

Ridley Scott

Para exemplificar sua influência em Batman, bastaria um print do primeiro frame do trailer do filme:

E além dessa cena específica, a filmagem através de vidros em vários momentos, ao lado desta construção sombria em ambientes fechados, quase claustrofóbicos, podem tranquilamente ter bebido na fonte de Hopper.

O assassino do Zodíaco e o trabalho de David Fincher

A inspiração para a construção do Charada como um serial killer veio direto do assassino do Zodíaco, que aterrorizou o norte da Califórnia na década de 60. Tanto visualmente, quanto pela comunicação com a polícia e a imprensa usando enigmas.

Com uma atualização e adequação do personagem ao universo das redes sociais.

O que inclui, por exemplo, uma live com um personagem precisando decifrar uma charada para sobreviver — no estilo Jogos Mortais. E também a criação de uma comunidade de seguidores do vilão.

Além do caminho óbvio de se inspirar no filme Zodíaco, do David Fincher, também é possível notar algumas semelhanças com Seven, do mesmo diretor. Principalmente pelo fato do assassino se entregar após completar os assassinatos que havia planejado.

E fiz questão de deixar esse tópico para o final para trazer um contraponto.

Em Zodíaco, a obsessão de Robert Graysmith, vivido por Jake Gyllenhaal, para desvendar quem era o serial killer e o fato dele não ser descoberto levam a um desfecho em tom pessimista.

Se você viu Seven, acho improvável que tenha se esquecido da cena final, também com um forte tom pessimista.

Além de ser característica de vários filmes Noir e Neo-Noir, são marcas que ficam no nosso imaginário e ajudam a tornar essas obras inesquecíveis.

No caso de Batman, apesar da inspiração no gênero, ainda estamos falando de um filme de super-herói e o final escolhe um caminho diferente — para enaltecer o personagem e desviar desse pessimismo.

E o Matt Reeves soube fazer isso de maneira maravilhosa, mas esse é um papo para quando formos desconstruir a construção narrativa do filme.

Enquanto isso, você notou mais alguma referência no filme?

Aproveita para me contar nos comentários 🙂

Dimitri Vieira

Sou um escritor e produtor de conteúdo, especializado em Escrita Criativa, Storytelling e LinkedIn para Marcas Pessoais. Minhas maiores paixões sempre foram a música, o cinema e a literatura. Escrevendo textos na internet, consegui unir o melhor desses três universos, e o que era um hobby acabou me transformando em LinkedIn Top Voice e, hoje, se tornou minha profissão.

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