O primeiro artigo que escrevi e compartilhei no LinkedIn foi contando sobre minha mudança de carreira, com uma bela dose de sensacionalismo no título que não repetiria hoje em dia:
De Tesla ao Google: como mudei da Engenharia Elétrica para o Marketing em 23 horas
Isso foi no começo de 2018 e não lembro exatamente quantas conexões eu tinha, mas me lembro que esse artigo teve pouquíssimas visualizações quando publicado e pouco me importei com isso.
O que me interessava mesmo era contar minha história.
Logo após publicar, lembro também que atualizei meu campo de Sobre (na época, chamado de Resumo) para fechá-lo com uma pergunta: “Quer entender como um engenheiro foi parar no marketing? Confira o artigo abaixo”.
Meu perfil passou um bom tempo assim e, quando chegavam novas conexões, elas também se interessavam por entender melhor minha travessia de carreira e clicavam ali.
Mal sabia na época, mas ali eu começava uma estratégia de produção de conteúdo que foi — e continua sendo — crucial na minha carreira: documentar e compartilhar minha jornada de aprendizado.
O meio termo ideal entre a Síndrome do Impostor e o Efeito Dunning–Kruger
A síndrome do impostor você provavelmente já conhece e, se ainda não conhece o Efeito Dunning-Kruger, deixa eu te explicar de forma bem rápida.
Ele tem a ver com a nossa curva de aprendizado ao nos depararmos com um assunto novo. Ou mais especificamente, com a relação entre a confiança e o conhecimento adquirido.
Em um primeiro momento, conhecemos um tópico novo e pode-se dizer que a empolgação nos leva a acreditar que sabemos muito sobre aquilo — esse é o pico da estupidez.
Um pouco depois, percebemos que o buraco é mais embaixo e entramos numa fase em que nossa confiança costuma ser menor que o conhecimento — que recebe o nome de vale do desespero, mas provavelmente soa bem familiar, não é, impostor?
Finalmente, após bastante estudo e prática — principalmente prática — nosso aprendizado nos leva a um ponto em que temos consciência de que sabemos bastante, mas também conhecemos nossas limitações.
E o gráfico fica assim:
Dependendo da confiança nessa curva, somente compartilharíamos conteúdos e aprendizados em dois momentos: no pico da estupidez e no final da curva.
Ou seja, após passarmos pelo pico da estupidez, somente nos restaria aguardar o grande momento em que finalmente nos tornaríamos especialistas.
Ou então, podemos chegar ali debaixo — no vale do desespero mesmo — chegar pedindo licença: “opa, eu não sou especialista não, mas olha só que eu aprendi…”
É tudo questão de posicionamento
Se você se sente inseguro em compartilhar aprendizados dessa maneira, excelente. É um forte sinal que você se importa demais com seu trabalho e mais um indício de que você deve, sim, compartilhar.
Pode surgir alguém te questionando por falar sobre algum assunto sem ser uma autoridade nele? Claro que pode, ainda mais nessa internet e nessa fase em que vivemos.
Mas tudo é questão de posicionamento.
Vamos a um exemplo extremo: se eu acrescentasse à minha minibiografia ao final desse texto que sou especialista em storriteling, qual seria sua reação? Provavelmente duvidaria de mim, certo?
Agora, se você visse um conteúdo meu falando que acabei de começar a aprender storriteling e que planejo compartilhar meus próximos passos e aprendizados sobre o assunto.
O nível de cobrança e expectativa já muda.
No primeiro caso, imagino que várias pessoas tirariam prints para compartilhar em mensagens privadas e seria possível ainda render alguma publicação no feed acusando o Efeito Dunning-Kruger.
No segundo, já seria bem mais fácil alguém se aproximar para me ajudar e até me dar um feedback para corrigir a grafia.
E isso tem tudo a ver com um grande ponto positivo de compartilhar sua jornada.
É uma das melhores formas de conhecer novas pessoas e fazer Networking
Compartilhe seus aprendizados mais recentes e você verá isso acontecendo.
Outras pessoas da sua área vão passar a te conhecer por estarem num trecho de jornada parecida, ou simplesmente por terem interesse em acompanhar sua trajetória.
Isso inclui pessoas mais iniciantes que você, no mesmo nível e, até mesmo, mais avançadas — ou, se preferir, “especialistas”.
Assim, você pode atrair tanto pessoas que querem aprender com você, quanto pessoas dispostas a te ajudar.
Ali em cima, no intertítulo, chamei isso de networking, mas acredito que tem um potencial ainda maior: criar e fortalecer comunidades.
Porque, quanto mais pessoas estiverem dispostas a compartilhar seus aprendizados sobre um determinado assunto, teremos mais pessoas dispostas a aprender sobre aquilo, colaborarem e se ajudarem para crescerem juntas.
Quer um exemplo para ver tudo isso na prática?
Em maio de 2020, compartilhei o seguinte artigo por aqui:
Por que decidi (finalmente) profissionalizar meu Instagram e como você pode começar?
Meu objetivo com ele era bem simples: avisar que finalmente criando vergonha na cara para profissionalizar meu Instagram.
Se você me acompanhava por lá antes disso, provavelmente saber que meu perfil vivia à base de Spotify, fotos com minha namorada e cervejas nos finais de semana. 100% pessoal e zero conteúdo.
Como eu já vinha num ritmo de produção mais forte de textos, acreditava que a adaptação para o Instagram seria bem simples e que eu estava “desperdiçando” conteúdo por não fazer isso.
Advinha só em qual ponto do Dunning-Kruger eu estava?
Nem no Vale do Desespero eu havia chegado. Estava no topo do Pico da Estupidez mesmo.
Confiança lá em cima que seria bem simples adaptar meus artigos para lá, conhecimento lá embaixo e bora profissionalizar o Instagram.
E, se você ver meu posicionamento no artigo, verá que não há problema algum. Porque a mensagem principal que levo no artigo não é querendo posar de especialista, ditar regras ou ensinar ninguém o que se deve fazer.
Era simplesmente avisar:
Tô começando no Instagram, galera. Quem quiser me acompanhar, será um prazer. Quem também estiver pensando em começar, é assim que eu tô fazendo. Bora?
Olhando os comentários, você verá algumas pessoas que estavam passando pela mesma situação e que haviam começado a profissionalizar o instagram recentemente.
Outras pessoas aprovando a iniciativa e comentando que já estavam me acompanhando.
E também vai ver uma verdadeira aula de Instagram em forma de comentário, pela Maria Vitória. Esse eu faço questão de incluir o print na íntegra:
Era basicamente ela me dizendo:
E fui descendo.
Hoje em dia, estou no Vale do Desespero — longe de começar a subir a curva ainda —, mas já tenho uma noção bem melhor da dinâmica do Instagram e sei te dizer que adaptar artigos em texto para lá não é uma tarefa tão simples assim. 🤷🏻♂️
Mas já cheguei a ajudar algumas pessoas com a produção de carrosséis também, no melhor estilo “opa, eu não sou especialista não, mas olha só que eu aprendi…”
Ah! E quando decidi incluir uma aula bônus no curso de Escrita Criativa e Storytelling sobre Instagram para Escritores, advinha só quem foi que eu convidei?
Essa tá fácil…
No fim das contas, documentar e compartilhar sua jornada acaba sendo uma das maneiras mais simples de se fortalecer sua marca pessoal a longo prazo.
Porque não exige nada de você além de ensinar o que você pratica (e praticar o que você ensina).
De bônus, você ainda acaba conhecendo várias pessoas incríveis em sua jornada.
E aí, continua acreditando que você precisa ser especialista para trabalhar sua marca pessoal?